terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sempre haverá uma pergunta:


26. É realmente o fim (?!)

Você sabe, leitor, tem gente escrevendo e falando de tudo um pouco, mas nós bagrinhos da sociedade dita classe média nada sabemos sobre a crise do Oriente Médio, nem da crise do Euro e muito pouco da crise dos Estados Unidos. A verdade profunda está sendo negada da humandade. Acompanhe os raciocínios.
No século XIX, o escritor Georg Wilhelm Friedrich Hegel criou a Teoria do Fim da História acenando para o lindo momento em que tudo estivesse resolvido entre os povos. No último quarto do século XX o tema foi retomado no contexto da crise da historiografia e das Ciências Sociais no geral.
Essa teoria sustenta, como o nome sugere, o fim dos processos históricos caracterizados como processos de mudança. Para Hegel isso iria acontecer no momento em que a humanjidade atingisse o equilíbrio, representado, de acordo com ele, pela ascensão do liberalismo e da igualdade jurídica, mas com prazo indeterminado para ocorrer.
Há vários anos essa teoria já adquire caráter de situação ocorrida pois, de acordo com os seus pensadores, a História terminou no episódio da Queda do Muro de Berlim. Naquele momento, os antagonismos teriam terminado pelo fato de, a partir de então, haver apenas uma única potência – os Estados Unidos - e, consequentemente, uma total estabilidade.
Apesar do sobrenome japonês, Francis Fukuyama, é um norte-americano e desenvolveu uma linha de abordagem da História, desde Platão até Nietzshe, passando por Kant e pelo próprio Hegel, a fim de revigorar a teoria de que o capitalismo e a democracia burguesa constituem o coroamento da história da humanidade. Na sua ótica, após a destruição do fascismo (Hitler-Mussolini) e do socialismo (URSS), a humanidade, à época, teria atingido o ponto culminante de sua evolução com o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes. Em oposição à proposta capitalista liberal, restavam apenas os vestígios de nacionalismos (sem possibilidade de significarem um projeto para a humanidade) e o fundamentalismo islâmico (restrito ao Oriente e a países periféricos). Desse modo, diante da derrocada do socialismo, o autor concluiu que a democracia liberal ocidental firmou-se como a solução final do governo humano, significando, nesse sentido, o "fim da história" da humanidade.
Papo furado. Ele não sabia que o capitalsimo também estava agonizando. Olhai para os Estados Unidos e para a Zona do Euro. E tentai ver o que se passa no Oriente Médio e Norte da África.
As Revoluções tunisiana e egípcia. A primavera árabe. O calote grego. A cada vez mais provável quebra da Zona do Euro. A segunda onda da crise financeira global. O retorno vingativo da crítica sistêmica ao capitalismo. O ressoante chamado no mundo todo por democracia real. As manifestações dramáticas contra austeridade, desigualdade e neoliberalismo na Espanha, Grécia, Chile e Israel. As revoltas em Atenas, Londres e Roma. A ocupação de Wall Street e a difusão do movimento pelos EUA. Os protestos massivos de milhões de pessoas em 1000 cidades e em 80 países no dia 15 de 0utubro de 2011. Até a morte de Muammar Kaddafi é sintoma.
Tudo isso aponta para a direção de uma simples, mas inequívoca verdade: 2011 marca o Fim do Fim da História. Os caras não sabiam de nada ou estavam jogando cortinas de fumaça para evitar que o povão visse a realidade que estava por trás.
Além do horizonte monótono da democracia liberal e do capitalismo global, os eventos de 2011 não só abriram todo um novo capítulo no desenrolar da saga da humanidade, como colocaram os alicerces para um desfile sem fim dos capítulos a seguir. O que está sendo destruído não é tanto o sistema capitalista democrático como tal, mas a crença utópica que o sistema é o único modo de organizar a vida social na busca eterna por liberdade, igualdade e felicidade.
Há quase 20 anos atrás, seguindo o colapso total da União Soviética e o descrédito final do estado comunista, aquele mesmo cientista político, americano, Francis Fukuyama, como vimos no início deste capítulo, conjeturou não só o fim da Guerra Fria, ou o passar de um período particular de história de pós-guerra, mas o fim da história como tal: quer dizer, o ponto final da evolução ideológica da raça humana e a universalização da democracia liberal ocidental como a forma final de governança humana. Antigamente uma previsão assim demandava 100 anos ou mais. Esta durou duas décadas. A tese de Fukuyama demonstra estar mais abalada do que nunca.
Isso para não repetir o clichê esquerdista de que o neoliberalismo está morto – como Slavoj Žižek assinalou, a ideologia já teve duas mortes, primeiro como tragédia, seguindo os ataques terroristas de 11/09, e depois como farsa, seguindo o colapso financeiro global de 2008 – mas para assinalar que o neoliberalismo como tal finalmente revelou o que sempre foi: uma ideologia zumbi mascarada com face de humanidade, assim como o famoso polvo vampiro de Matt Taibbi, “incansavelmente enfiando seu funil sanguinário em qualquer coisa que cheire parecido com dinheiro”.
Infelizmente, com raras exceções, só andamos pra frente onde cheire dinheiro. Só lidera este mundo velho e cansado aquele que tiver mais grana. Que pobreza!
Até Deus anda cansado conosco.

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