22.Expiações
e provas (necessárias)
A propósito da crônica
anterior, de nº 21, o raciocínio mais superficial que se faz é, por um lado,
lamentar quando acontecem as tragédias naturais ou provocadas, o que bem
demonstra nossa índole humanitária, hoje.
Quem sabe num longínquo
passado tenhamos tido o prazer de atear fogo nos casebres de nossos adversários
sem perguntar se ali dentro havia inocentes...
As tribos adversárias
mandavam seus guerreiros invadir a taba desafeta e atear fogo nos casebres. De
que lado nós estávamos, resta perguntar.
Quem quiser andar pra frente
não pode furtar-se desta conversa. Conversa não para encher lingüiça e passar o
tempo, mas para servir de baliza do passado.
Aqueles radicalmente
cheios de razão não fazem concessões nem curvas. Andam em retas. Uma reta é sempre traçada a partir de três
balizas: a de ré (que assinala o ponto do passado, de onde viemos); a daqui
(que assinala onde estamos no presente); e a da frente, que assinala para onde queremos
ir.
Então se descobre que
evoluir é também fazer curvas, copiar a sabedoria das águas, que sempre sabem
para onde vão, fazendo curvas e concessões...
Evoluir é abandonar velhos
hábitos, antigas atitudes, matar o homem velho em favor do nascimento do homem
novo.
Se não, não há avanço.
Vamos retroceder alguns séculos
e nos transportar para o Coliseu, em Roma. Observe que os legisladores e o
imperador e seus asseclas ao determinarem e ao executarem a soltura das feras
contra indefesas vítimas desarmadas, mulheres, idosos e crianças, há que
considerar que entraram para a lista kármica, sem distinção. Aquelas centenas
ou milhares que, das arquibancadas e galerias, aplaudiam o leão e se deliciavam
com o sangue derramado e a derrota daqueles que consideravam desafetos, também
entraram para a lista kármica, já podem ter sido chamados a derramar sangue
para experimentar a recíproca ou quem sabe ainda estejam no período de acerto.
Evoluímos um pouquinho.
Hoje vamos aos estádios e vibramos com a derrota do time adversário. E algumas vezes
quebramos a cara do torcedor adversário nojento que nos desafia ali mesmo na
arquibancada ou antes ou depois na entrada ou saída da versão moderna do
coliseu.
Há que botar em dia o
karma, ah se há!!!.
E as guerras das quais
participamos e durante as quais acionamos armas contra alguém de outra farda ou
bandeira e pintamos de heróis, como fica isso, cabe perguntar.
E há que perguntar também
sobre as barbaridades perpetradas contra escravos e índios.
Como imigrantes europeus,
que somos, em grande maioria, é quase certo, também, que estivemos no Coliseu,
nas guerras e mais tarde, já na América, promovendo atrocidades contra escravos
e índios.
Nascer pobre, quase
mendigo, ser expulso do desenvolvimento, ter de morar no morro, na favela, na
palafita, passar por “catástrofes calculadas”, sentir o “mundo acabar”, não ter
para onde ir, aprender a linguagem da solidariedade, da caridade, da justiça
com misericórdia, pode ser uma experiência karmática.
De outro modo, gostaria de
enfocar o pouco caso com que as Leis Naturais ou Divinas são encaradas pelos
membros das gangues de poder e do tráfico, acostumadas a eliminar os
concorrentes para retirá-los do caminho ou submeter seus eleitores a duras
provas por desleixo administrativo. Não se pode imaginar que ignorem as leis
divinas e nem que imaginem poder manipulá-las. Muito menos se pode imaginar que
se julguem isentos de serem chamados a responder por seus atos.
Pensemos nisso tudo, até
depois...
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