d.
Jung premido pelo dever e pela ética
Aos
leitores deste blog com algum conhecimento sobre o Sagrado através da Cultura,
já perceberam que o velho e querido Jung passou muitos anos de sua vida
envolvido com algo entre xamanismo e espiritismo, mas a escola onde estudara e
onde lecionara jamais admitiriam tais conteúdos. Ele, porém, já tinha absoluta
certeza do que se passava com ele e suas experiências. Esta foi uma árdua
tarefa de sua vida, já que sentia uma responsabilidade moral perante a
comunidade acadêmica. Afirmava que o homem não pode limitar-se a ver surgir as
imagens e surpreender-se ante elas, deve compreendê-las porque de outro modo
está condenado a viver de forma incompleta. "É grande a responsabilidade
humana ante as imagens do inconsciente", são palavras suas.
Sentia
uma vontade louca de abrir para o mundo tudo o que descobrira, mas o mundo
científico não o compreenderia, como já havia acontecido com outros.
Em
1916 Jung experimenta uma nova visão: sua alma voava fora dele, o que
interpretou como a possibilidade de conectar-se com o mundo dos mortos, dos
antepassados ou do inconsciente coletivo. Pouco depois desta visão percebia a
presença de espíritos que habitavam sua casa – também seus filhos os percebiam
–, até que uma tarde os espíritos tocaram o timbre gritando "Retornamos de
Jerusalém, onde não encontramos aquilo que procurávamos". Jung então
escreve durante três noites os "Sete Sermões aos Mortos" e
posteriormente os espíritos desapareceram. Afirma que esta experiência devia
ser tomada pelo que foi: a manifestação externa de um estado emotivo favorável
à aparição de fenômenos parapsicológicos. A evasão de sua alma o tinha
conectado com os espíritos. Estes escritos, que são diálogos com os mortos,
Jung os considera uma preparação daquilo que devia comunicar ao mundo sobre o
inconsciente e seus conteúdos. Para escrever os “Sete Sermões” usou
praticamente tudo que ditava o espírito Basilides, que se anunciava ter vivido
em Alexandria.
Neste
período Jung se encontra frente a uma encruzilhada: ou seguir aquilo que lhe
ditava seu mundo interno, ou continuar com sua profissão acadêmica. Considerava
que não podia seguir ensinando aos estudantes quando em seu interior havia só
dúvidas, dúvidas do ponto de vista acadêmico, apenas. Decide então deixar seu
posto como docente na Universidade porque "sentia que estava ocorrendo
algo grandioso", e ele precisava descobri-lo ou entendê-lo antes de poder
compartilhá-lo publicamente. Como conseqüência desta decisão, inicia um período
de solidão já que não pode compartilhar seus pensamentos com outros colegas:
não o teriam compreendido. Nem sequer ele conseguia entender as contradições
entre seu mundo interno e o externo. Para aumentar ainda mais o suplício das
dúvidas, Jung tinha como pano de fundo de sua cultura a velha tradição
religiosa européia, resultado do confronto de Calvino e Lutero com o Vaticano.
Seus colegas e contemporâneos da Psicologia também provinham da mesma escola
tradicional ou eram agnósticos. Ele balançava entre declarar-se um estudioso do
mundo espiritual e manter a estreitas fronteiras traçadas pela academia. Só
quando pudesse demonstrar que os conteúdos psíquicos eram reais e coletivos,
pensava ele, era o momento de comunicar sua nova visão sobre a psique. Não teve
todo o tempo que desejava. Antes de escancarar sua nova ciência, foi arrebatado
desta dimensão.
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