d.Unir
e não fragmentar; incluir, não excluir
Nossa
(majoritária) cultura de rapina nos conduz a explorar com sofreguidão os
recursos disponíveis, à exaustão, até mesmo do nosso próprio corpo e por
extensão, então, da natureza circundante. O modelo científico europeu,
concebido por Bacon, manda extrair da natureza, mediante tortura, todos os seus
segredos. E nós levamos isso tão a sério até mesmo com o santuário de nossa
alma, o corpo. Mas, não estamos atrás dos segredos, como seus aliados, estamos
atrás da rapina. Mentimos pra nós mesmos, traímos a nos mesmos, não medimos as
consequências de nossos atos e só lembramos que a vida não nos pertence quando
estamos a um fio de perdê-la por completo.
Enquanto
todo o Universo nos ensina ciclos, trocas, interatividade e inclusão,
trabalhamos a exclusão, a separação, e achamos que podemos buscar a salvação
individual, coisa que jamais estará ao alcance de qualquer um. Somos um sistema
e o sistema precisa ser salvo, isto é, melhorado. Fragmentados intimamente
morremos doentes. Fragmentados no sistema vemos a nossa sociedade cair pelo
abismo. E então nos agarramos naquela raiz exposta do paredão e achamos que
estamos livres da queda. Não haverá salvação para ninguém enquanto a humanidade
não encarar o processo de reverso do andor da carruagem.
Nossos
fragmentos são ilhas íntimas, nós nos comportamos como ilhas do lado de fora.
Esses fragmentos, segundo o psiquiatra Augusto Cury, são ilhas que se formam em
nosso córtex cerebral a ameaçar nossa estabilidade emocional. Ainda segundo
ele, é preciso ligar os fragmentos através de pontes capazes de conectar
experiências distintas para promover aprendizado e maturidade.
Recomenda-se
a cada leitor fazer um inventário descrevendo os fatos mais relevantes de sua
existência para poder compreender que nem tudo é desespero, nem tudo é
serenidade. Os ciclos nos alcançam com mais intensidade do que imaginamos. O
medo e a tranquilidade estiveram presentes alternadamente construindo a beleza
e a feiura, o júbilo e a decepção, o mar de rosas e o maremoto. O que seria de
uma alma que passa por aqui apenas voando em céu de brigadeiro?
Se
não ligamos os fatos de baixa maré com os de alta maré, somos levados a
acreditar apenas num dos lados de nossa história e qualquer que seja ele isso
não é bom.
É
preciso tirar algumas horas para cuidar de nós, se não quem vai nos cuidar será
o médico e a enfermeira, o psiquiatra e o coveiro. Abrir a caixa de lembranças
para regozijo ou para lamentação e ir anotando o que foi bom e o que foi mau, é
um exercício integrador de nosso capital espiritual. Nessas anotações que o
blog e o psiquiatra recomendam, é bom estabelecer uma cronologia nesses fatos,
inclusive para descobrir quais foram as fases em que tais eventos se
desencadearam. Veja: novamente estão aqui os ciclos.
É
muito importante entender o que foram conquistas choradas e prêmios até de
certa forma inesperados; o que foram derrotas ou provas e que lições deixaram.
É muito importante encontrar a fortaleza para o auto-perdão naquelas situações
em que fomos perfeitos babacas com nossa própria vida. E também para entender
quando fomos prejudicados por alguém e se realmente foi um prejuízo ou se a
vida estava querendo mudar de ciclo. E olhar também para aqueles atos indignos
que praticamos contra outras pessoas. Só olhar, não. Consertar, se possível.
Essa conciliação entre eu comigo e de mim para com a vida circundante, quem
sabe, seja a reconciliação entre o que entendemos por vitórias (que nos legam
dignidade) e o que entendemos por derrotas (que nos impingem sensação de
impotência e desespero) e, na verdade, tudo isso deveria se transformar em
dignidade pela nossa postura de resistir, persistir, perseverar, transformar,
apanhar e dar a volta por cima, surrar e não se ufanar. Disso virá o
equilíbrio, o novo entendimento de que a vida é cíclica. Nem sempre haverá
noite; nem sempre permanecerá o dia. Não há bem que sempre dure nem mal que
nunca termine.
Se
você acredita nesse esforço de mudança para melhor, sairemos aos poucos dessas
operações capacitados a valorizar mais os bons momentos e fortalecidos a
enfrentar com altivez os maus momentos.
Importa
que, essa transição para uma nova postura, não seja algo passageiro, de um fim
de semana, mas um processo a ser incorporado e revitalizado. É isso que o blog
espera de todos.
AVISO
AOS FREQUENTADORES DESTE BLOG
Por
razões operacionais, este blog parará de ser abastecido a partir da postagem nº
1.000. Os leitores que apreciem prosseguir recebendo postagens novas, devem
migrar para o blog:
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