sábado, 23 de fevereiro de 2013

993-A Revolução de Jung em Busca do Espírito


c. Enfim, Jung se faz médium
 

Se olharmos para seu achado à beira do lago, relatado no capítulo antecedente, iremos compreender que algo transcendental estava a caminho para Jung. Até que no outono de 1913, o sentimento de opressão interna parecia cobrar vida exterior através de feitos concretos. Começaram a se apresentar visões repetitivas que profetizavam uma grande catástrofe de tipo coletivo onde preponderavam conteúdos de morte e acontecimentos de sangue, enquanto que uma voz interna lhe assegurava que tudo o que percebia era certo. Jung não conseguia explicar estas visões e chegou a pensar que estava psicótico. As visões duraram quase um ano, com intervalos de meses entre umas e outras; todas aludiam ao mesmo conteúdo.

Em agosto de 1914 começou a primeira guerra mundial. Nesse momento Jung compreendeu que existia uma conexão entre sua experiência pessoal e a coletiva, por isso sentiu a necessidade de explorar a fundo sua própria psique e começou a anotar todas as fantasias que lhe chegavam nos seus momentos de jogo e construção, quando dava liberdade à sua criatividade.

Começa um período no qual era invadido por toda classe de fantasias e imagens. Afirmava sentir-se indefeso ante este mundo difícil e incompreensível. Mais de uma vez intuía a necessidade de amparo, convencido de ter que obedecer a uma "vontade superior". Recorria a exercícios de ioga para dominar suas emoções e encontrar calma para assim inundar-se de novo em seu enfrentamento com o inconsciente.

(Onde Jung achava estar o inconsciente, os espíritas localizam o espírito).

Traduzia suas emoções em imagens, em um intento para entendê-las e não ser possuído por elas. Esta vivência lhe serve de ferramenta para o processo terapêutico, quer dizer: não ficar na emoção e sim chegar às imagens subjacentes e daí à prática.

Jung concebia este encontro com o inconsciente (espírito) como um experimento científico sobre si mesmo, onde as maiores dificuldades radicavam no domínio de seus sentimentos negativos assim como na incompreensão do material que surgia de sua psique, o que lhe produzia resistência, oposição e temor. (Bem como foi narrado daquilo que se aprendeu com via xamanismo) Temia perder o controle e ser possuído pelos conteúdos do inconsciente, mas ao mesmo tempo sabia que não podia pretender que seus pacientes fizessem aquilo que ele não podia fazer consigo mesmo.

Apesar de considerar uma experiência penosa submeter-se a isto, sentia que o destino o exigia. Obtinha forças para enfrentar-se nesta luta na idéia que não era só por seu bem, mas sim pelo bem de seus pacientes. Por outro lado, a família e a atividade profissional foram ingredientes indispensáveis para ajudar Jung em todo este processo. Ambas lhe recordavam que era um homem comum. O mundo real e cotidiano complementava seu estranho mundo interior e representava a garantia de sua normalidade. Jung afirma que isto marcou a diferença entre ele e Nietzsche (outro ateu), que tinha perdido o contato com a realidade e vivia submerso em seu mundo interno caótico.

Surgiram então duas imagens importantes. A primeira aludia à transformação, morte e renascimento, enquanto que a segunda sugeria que devia deixar de identificar-se com o herói, aniquilar sua atitude consciente e apartar a vontade. Quer dizer, abandonar as demandas do Ego para poder acessar à consciência transpessoal.

Em outra imagem encontrava duas figuras bíblicas: Elias e Salomé - acompanhadas por uma serpente negra - que afirmava pertencerem à eternidade. Jung interpretou estas figuras como a personificação de Logos e Eros. Entretanto sentia que esta era uma explicação muito intelectual pelo que preferiu pensar que eram a manifestação de processos profundos do inconsciente. Faltava ao médium Jung aceitar que suas relações mais ricas estavam acontecendo no mundo dos espíritos. E que a serpente nada mais era que o símbolo do conhecimento.

Posteriormente apareceria em sonho outra figura chamada por Jung de "Filemón". Era um velho com chifres e asas de Martim pescador, que levava consigo 4 chaves. Com ele, Jung conversava e Filemón lhe dizia coisas que lhe eram desconhecidas. Ensinou-lhe a "objetividade psíquica", o que ajudou Jung a distinguir entre si mesmo e os objetos de seus pensamentos. Para Jung esta imagem representava uma inteligência superior, um guru espiritual, que lhe comunicava pensamentos iluminados. Mais tarde surgiu a imagem de "Ka" que representava uma espécie de demônio da terra, um espírito da natureza, que em certa medida complementava a figura de Filemón.

Isso tudo estava se encaminhando para um produto mais profundo que chegou para Jung, a figura de Abraxas – o monstro que pode virar anjo. Falaremos dele adiante.

Enquanto Jung anotava suas fantasias, perguntava-se o que era, em realidade, o que estava fazendo, já que, no seu pensar, não se tratava de ciência. Uma voz feminina que provinha de seu interior – que Jung associava com a voz de uma de suas pacientes falecidas - respondeu-lhe que "era arte". Hoje se diz tratar-se de ciência e arte dos iniciados que falam com a espiritualidade. Jung se opunha pensar que fosse arte, entretanto deixou fluir esta "mulher interior", embora se sentisse assustado ante esta presença desconhecida. Chamou-a "anima", referindo-se à figura interna feminina arquetípica do homem, enquanto que o "animus" representava a figura masculina. Descreveu os aspectos negativos da "anima" como sedução, astúcia e ambigüidade, mas com a qualidade de ser a mediadora entre a consciência e o inconsciente. Jung afirma que durante anos serviu-se de sua "anima" para acessar aos conteúdos de seu inconsciente, enquanto que em sua velhice já não recorria a ela porque conseguia captar estes conteúdos de forma direta.

Através de sua "anima", Jung conseguia estabelecer um diálogo com o inconsciente, acessar aos conteúdos do mesmo e diminuir a autonomia que exercia sobre sua pessoa. O poder que tinha as imagens voltou menos violento. Já não havia um salto do inconsciente para a consciência, mas sim estabelecia um intercâmbio dinâmico criativo.

Estas fantasias, Jung as escreveu no "Livro Negro" e posteriormente no "Livro Vermelho", no qual se encontram suas mandalas e as ilustrações realizadas por ele mesmo. Entretanto sentia que não conseguia pôr em palavras aquilo que experimentava, por isso preferiu dedicar-se em profundidade à compreensão das imagens para assim tirar conclusões concretas das mensagens que o inconsciente lhe sugeria.

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