sexta-feira, 22 de junho de 2012

De Simão Pedro a Pietro Ubaldi (X)

125. Presença de Cristo


Cristo era uma presença marcante na vida de Pietro Ubaldi e se fez visível muitas vezes. Acreditamos que a luz vista por ele na igreja, quando ainda criança, e que fora obrigado a calar-se, tenha sido a luz do próprio Cristo, a dizer-lhe: “eis que estou contigo”. A sintonização entre Cristo e Pietro Ubaldi era total, e tomava formas delineadas, quando necessário. Foi visto, em 1927, quando Ubaldi fez voto de pobreza. Apareceu, juntamente com S. Francisco de Assis, em 1931, em Colle Umberto, quando renunciou a riqueza e o conforto proporcionado por ela. Apareceu em Módica, na Sicília, no início da vida missionária de Pietro Ubaldi. Fez-se presente no trem, quando Ubaldi retornava a Gúbio, após as festas natalinas junto da família, muito preocupado com a solidão daquele quarto frio, numa casa gelada. Assim, é descrito o aparecimento de Cristo, a Ubaldi: “E como de outras vezes, nascia primeiro o olhar e esse olhar lhe falava”. Em Gúbio, “As vezes, o colóquio se fazia tão intenso, tão forte aquele pensamento batia as portas de sua alma, que lhe parecia encarnar uma forma branca, luminosa e diáfana, que recordava a figura de Cristo. E o protagonista a olhava para fixar-lhe os lineamentos feitos de luz”. Em 17 de agosto de 1951, em Pedro Leopoldo, transmitiu-lhe uma Mensagem de encorajamento. Naqueles saudosos dias dos meses de janeiro e fevereiro de 1964, na praia de Grussaí, diz Ubaldi na última página de “Um Destino Seguindo Cristo”: “Assim vivo nesta casinha humilde, à beira do mar, num deserto povoado de pensamentos, no meio do vento e das ondas, hospedado graças à bondade e ao amor de um amigo sincero. Assim, vivo aqui, livre e despreocupado, longe do inferno humano. Passo as noites escrevendo, ocupando-me de Cristo, como O sinto a meu lado. Ele me está olhando, e eu leio nos Seus olhos o pensamento de Deus”. Em São Vicente, no seu quarto e gabinete de trabalho, Cristo aparecia-lhe, constantemente, e, acreditamos, em muitos outros lugares de nosso imenso pais.
O mesmo dizemos de Simão Pedro. Cristo, quando ainda neste mundo, sempre procurou trazer a seu lado o discípulo a quem entregou as chaves do reino, talvez pela responsabilidade que deveria assumir após a Sua crucificação, porque viu nele o principal herdeiro espiritual. Convidou-o para ir com Ele ao local da transfiguração; chamou-o para andar sobre as águas do mar de Tiberíades; avisou-o de que ele O negaria três vezes, antes que o galo cantasse; levou-o Consigo para o monte das Oliveiras; fez com ele e os demais apóstolos a última ceia; realizou várias curas em sua presença; disse-lhe e aos demais discípulos que os enviaria como ovelhas no meio de lobos; repreendeu-o na hora necessária; explicou-lhe e aos outros que estavam em sua companhia, várias parábolas; e além de tudo isso, não o abandonou, nem depois da ressurreição. Quando dois discípulos Seus seguiam para Emaús, Jesus caminhou com eles e explicou toda a escritura a Seu respeito. Quando o Senhor desapareceu, após o partir do pão, eles se recordaram de que Ele havia ressurgido e apareceu a Simão Pedro. Em toda a trajetória do Apóstolo, Jesus se fazia presente, até o fim de sua existência terrena, como nos relata Henry Sienkiewicz, em Quo Vadis?: “Numa madrugada, dois vultos sombrios percorriam a Via Appia, na direção das planícies e dos campos.
Um era Nazário, o outro era Pedro, que abandonava Roma e os seus filhos aí martirizados. A estrada estava deserta. Os camponeses, que levavam legumes para a cidade, não tinham ainda atrelado as suas carroças. No lajedo de pedra que calçava a estrada até as montanhas, ressoavam debilmente as sandálias dos dois peregrinos.
O sol emergiu por detrás do dorso da serrania, e um espetáculo estranho se apresentou aos olhos do Apóstolo. Pareceu-lhe que a dourada esfera, em vez de se elevar no céu, deslizara do cimo dos montes e vinha ao seu encontro.
Pedro se deteve e perguntou:
Vês esse clarão, que caminha para nós?
— Nada vejo, respondeu Nazário.
Mas o Apóstolo abrigou os olhos com a mão, e, passado um instante, afirmou:
— Dirige-se para nós um homem transportado na irradiação do sol! Mas não se ouvia som dos passos; em torno, o silêncio era absoluto. Nazário só distinguia as árvores, que estremeciam como agitadas por mão oculta e a claridade que na planície se espelhava, cada vez mais ampla.
E olhou para o Apóstolo com surpresa.
— Rabino, que tens Tu, interrogou, ansiosamente.
O bordão caíra das mãos de Pedro, que fixava o olhar na frente, com a boca entreaberta, tendo no rosto refletidos o júbilo e o êxtase...
Ajoelhou-se; e os seus lábios murmuraram!
— Cristo! Cristo!
Prostrou-se na atitude de quem beijava invisíveis pés; e durante muito tempo reinou completo silêncio. Por fim, a voz do ancião, entrecortada de soluços, se ouviu:
— Quo Vadis, Domine? Nazário não percebeu a resposta: mas aos ouvidos do Apóstolo chegou uma voz triste e suave que dizia
— Abandonas o meu povo; vou, por isso, a Roma, a fim de ser crucificado outra vez.
O Apóstolo permanecia deitado no caminho, com o rosto no pó, sem um gesto, sem uma palavra. Nazário supôs que Pedro havia perdido os sentidos, ou expirara. Ele, porém, ergueu-se, tomou, com a mão trêmula, o seu bastão de peregrino; e, silencioso, voltou-se para as sete colinas de Roma.
Nazário, então repetiu como um eco
—”Quo Vadis, Domine?”.
— A Roma, disse com brandura o Apóstolo.
E voltou para a cidade eterna”.
Chegando a Roma foi preso e crucificado, de cabeça para baixo, como nos testemunha a história, porque não se julgava digno de morrer como o Cristo morrera”.

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