terça-feira, 17 de abril de 2012

Quanta mudança...


66. A proposta original de Jesus

Vejamos, então, a coerência esotérica da proposta original trazida por Jesus: arrepende-te de teus erros, coloca Deus no centro de tua alma e de teu coração: (Marcos 12; 30: 30  Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. 31  E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes). Está sugerido o caminho pelo qual cada ser humano pode candidatar-se à descoberta de Deus, sem templo, sem religião, sem sacerdote. A isso se conceitua como descoberta íntima, sabedoria esotérica, gnose. Os dez mandamentos deixados por Moisés, se incorporados ao comportamento moral do ser humano, se conceitua como sabedoria exotérica, vinda de fora, uma lei baixada por um cuidador do povo, um xerife.

Já nos primórdios das pregações cristãs, aliás, gnósticas, e conhecidas de muitos povos, entre eles os Essênios e os Nazarenos, homens de cabelos longos, a cuja seita pertenceu Sansão, que amou Dalila, cuja lenda é conhecida e, não sem propósito, Jesus também ostentava longa cabeleira e também era chamado de nazareno, como Sansão, já naqueles primórdios a idéia da emancipação religiosa, de desvinculação da sinagoga ou templo,  não agradava aos governos centralizadores que, por sua vez, se valiam da religião para controlar o povo. As coisas ficaram ainda piores quando a idéia libertadora passou a ameaçar o governo de Roma, já em rota de queda, precisando reabilitar-se moral e financeiramente. As perseguições a cristãos, diga-se gnósticos, intensificaram-se. Quase todos os líderes principais dessa “idéia ameaçadora” foram sacrificados.

A determinada altura dos acontecimentos, o imperador convocou centenas de colaboradores para fazer surgir uma religião institucional, com papa, cardeal, bispo, sacerdote, exotérica, a partir da idéia cristã, que estava bem aceita no meio do povo. Como organização subordinada ao império teria ela de comprometer-se a ensinar aos fiéis, melhor dizendo, transmitir normas sobre o que é certo e o que é errado (de fora para dentro), para maior conforto do Império.

As sociedades iniciáticas eram, todas elas, vistas com este defeito pelos governos absolutistas: construíam entre seus seguidores o princípio do ser livre, desenvolviam a autonomia. Essas sociedades passaram a ser perseguidas, condenados os seus líderes e membros e declaradas apócrifas, isto é, não alinhadas, adversárias.
Esta página precisa retomar o tema dos chakras e a quarta dimensão, interrompida para a apresentação da Gnosis Kardias, mas ainda precisamos permanecer um pouco mais neste assunto.

Ainda os gnósticos, na verdade, os xamãs

O processo religioso (não institucional) da humanidade tem início no exato momento em que o homem teve sua consciência despertada para a sua individualidade, seguida da sua curiosidade para as coisas que escapavam de seu controle. Ali se revelara para ele o SAGRADO, o inteiramente outro.
O Sagrado se revelava poderoso porque erguia sobre o alto dos céus o sol, a lua, as estrelas, fazia chover, mandava raios e ventos.
Do respeito pelo Sagrado ou do temor a ele e do desejo de proteger-se dessa(s) força(s) extrema(s) – ainda não houvesse o conceito de UM deus ou de muitos DEUSES –, nasce o desejo de purificação, de mostrar-se digno perante o temível desconhecido e nasce o ritual, a oferenda, o sacrifício, nasce a tentativa de um desejável diálogo, que conhecemos pelo nome de oração, contemplação e meditação.
E como a força extrema dava ao homem o fruto, o grão, a raiz, a água, o calor, o animal-alimento, nasce a refeição sagrada, também um tipo de oferenda, na qual o ofertante se julga anfitrião e toma parte dela e também dela se serve, num conceito de comunhão com as forças sagradas.
Têm origem aqui todas as religiões do planeta. Modificadas depois, mas com origem nessa raiz.
Coube ao xamã, sacerdote primitivo (que recebia outros nomes de região para região, de cultura para cultura) inaugurar o contato espiritual, isso que modernamente conhecemos por telepatia, mediunidade ou canalização e, por vezes, também chamado de meditação. Na verdade, tem início ali o diálogo entre a inteligência de cá com a inteligência de lá. Note que naqueles tempos a inteligência de lá não estava centrada numa figura antropomórfica como sugerem algumas corporações religiosas posteriores.
Note o leitor, também, que com ou sem a intervenção do sacerdote ou xamã, a primitiva religião – ligar o que foi desligado – ensinava: “respeita, sede puro, dignifica-te, reverencia e serás admitido à comunidade abençoada”.
Isso tem conceito de gnose – conhecimento do segredo de como se faz e de como se age certo e se adquire capacidade para fazer a conexão, para estar de bem com o poder sagrado “do qual também podemos ser parte”.
Dentro desse conceito de “religião”, estão dispensados o templo, a regra, o sacerdote, o dízimo.
Isso era um absurdo diante do modo como os hebreus haviam sido preparados para serem conduzidos por um líder, por um rei, por um tetrarca ou por um rabino. O mesmo se pode dizer da religião romana antes do cristianismo ser incorporado. Moisés, o maior dos líderes hebreus e todos os seus sucessores, mas especialmente Salomão, e a esperança subscrita nos textos sagrados desse povo, dava como certa a vinda de um SALVADOR – aquele que levaria o seu povo ao porto seguro (conotação com Libertador). Todo o discurso gnóstico de Jesus – capacitação para agir sem intermediários – soou como uma tremenda decepção para os hebreus, que esperavam um rei guerreiro. Por extensão, foi uma tremenda ameaça para os romanos, que temiam a ascensão de um insurreto pleiteando colocar sobre sua cabeça a coroa de Davi (acusação que inventaram).
O resto desta história, todos conhecemos.
O que não conhecemos são os seus meandros.
Jesus nunca desejou sentar-se na cadeira de Salomão, apesar de tecerem para ele uma linha consangüínea com Davi e apesar de os merovíngios (não oficialmente) haverem alegado descendência de Jesus/Madalena para ocupar o trono de uma região da Europa, como sabemos, entre os séculos V e VIII. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como ensina o homem do povo sempre que quer ser entendido quando lida com coisas distintas.
O que queria Jesus? Libertar os homens de todos os jugos oferecendo o “seu leve jugo”, traduzido por conhecimento, consciência própria, autonomia, dignidade. Como poderia uma proposta destas chafurdar reduzida num cargo monárquico destinado a dominar uma nação ou um planeta inteiro? Não faz sentido na Palestina e nem na Europa, onde os merovíngios se matavam entre si para ficar com o poder.
Não se está negando a possibilidade de haver uma ligação marital entre Jesus e Madalena, nem de negar a possibilidade de haver descendentes biológicos destes dois seres humanos, ao que se sabe, iguais a nós.
Entretanto, vai uma enorme distância disso para que haja uma descendência intelectual ou espiritual autorizada a governar nações em nome do Sagrado. Sua doutrina se destinava a todos os povos, isso está claro dentro dos escritos que restaram. Suas idéias eram idéias de salvação/libertação, nunca de fidelização, adesão, escravidão. Todos quantos estiverem buscando fiéis, adeptos, vassalos, seja pela via do dinheiro ou da mão-de-obra ou da mente, estará na contramão da mensagem de Jesus.

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