domingo, 1 de abril de 2012

Algo está acontecendo...


54. Esporo ou expurgo?

Identificando

As bases de quase tudo, do ponto de vista de religioso, nos últimos séculos, passam por dois personagens: Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1227-1274). Foram, respectivamente, os maiores pensadores da Patrística e da Escolástica. Santo Agostinho valeu-se da filosofia de Platão, enquanto Santo Tomás de Aquino da de Aristóteles. Com isso, cada qual, em sua época, pôde influenciar não só a religião católica como muitos pensadores cristãos que lhes sucederam.
Tanto Santo Agostinho como Santo Tomás de Aquino afirmam que Deus, sendo eterno, transcendente, todo bondade e todo sabedoria, criou a matéria do nada e, depois, tudo o que existe no universo. Para Santo Agostinho, as idéias ou formas estavam no Espírito de Deus. Santo Tomás de Aquino acrescenta a noção dos universais em seus raciocínios. Dizia que Deus é a causa da matéria e dos universais. Além disso, Deus está continuamente criando o mundo ao unir universais e matéria para produzir novos objetos.
Nenhum deles colocava em dúvida a imortalidade da alma. Santo Agostinho dizia que alma e corpo são distintos, mas não soube explicar como a alma se liga ao corpo. De acordo com Santo Tomás, a alma humana — princípio imaterial, espiritual e vital do corpo — foi criada por Deus. Acreditava que a alma espiritual é agregada ao corpo por ocasião do nascimento, e continua a existir depois da morte do corpo, formando, pois, por si mesma, um novo corpo, um corpo espiritual, por meio do qual atua por toda a eternidade.
Em suas teorias, reportam ao "desprezo do mundo". Contudo, Santo Agostinho mostra-se incapaz de decidir entre o mundo e desprezo por ele. A despeito dessa dúvida, apega-se firmemente à idéia de que a Igreja, como a encarnação mundana da cidade de Deus, deve ter supremacia sobre o Estado. Santo Tomás de Aquino, da mesma forma que Aristóteles, doutrinava que o homem é naturalmente um ser político e procura estar em sociedade. Este homem deve tributar lealdade à Igreja e a Deus, mas tem, também, que obedecer ao Estado porquanto este, por sua vez, recebeu o seu poder da Igreja.
Fé, Razão e Revelação são os pontos fundamentais de suas teorias. Santo Agostinho demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Santo Tomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as, mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.
Fiquemos com o lado bom de seus raciocínios, ou seja, a crença num Deus único, causa primária de todas as coisas. Refutemos, porém, a supremacia que deram à Igreja, considerando-a como a monopolizadora da revelação de Deus.
Fonte de Consulta
FROST JR., S. E. Ensinamentos Básicos dos Grandes Filósofos. São Paulo, Cultrix.

Genealogia da Ética

Desde que o homem teve de viver em conjunto com outros homens, as normas de comportamento moral têm sido necessárias para o bem-estar do grupo. Muitas destas normas eram extraídas das religiões existentes, que cheias de dogmas e tabus impunham uma dose de irracionalidade ao valor moral. Mesmo entre os chineses, que não possuíam uma religião organizada, havia muitas normas esotéricas de comportamento ético.
A especulação exotérica começa somente com o pensamento grego. Sócrates, Platão e Aristóteles são os seus principais representantes. Sócrates dizia que a virtude é conhecimento; e o vício, é o resultado da ignorância. Então, de acordo com Sócrates, somente a educação pode tornar o homem moralizado. Platão estabelece que a vida ética é gradativamente mais elevada pela adequação desta às idéias (eide) superiores, análogas à forma do bem. Aristóteles deu à ética bases seguras. Dizia que o fim do homem é a felicidade temporal da vida de conformidade com a razão, e que a virtude é o caminho dessa felicidade, e esta implica, fundamentalmente, em liberdade.
Na Idade Média, os valores éticos são condicionados pela religião cristã, especificamente o Catolicismo. A Patrística e a Escolástica são os seus representantes. Nesse período, dá-se ênfase à revelação dos livros sagrados. O Pai, o Filho e o Espírito Santo determinam as normas de conduta. Jesus, que é filho e Deus ao mesmo tempo, torna-se o grande arauto de uma nova ética, a ética do amor ao próximo. Porém, essa ética é conspurcada pelos juízos de valores de seus representantes, que distorcem a pureza do cristianismo primitivo.
As exortações católicas mantiveram-se por longos anos. Contudo, no século XVI começou a sofrer a pressão do Protestantismo, ou seja, a reação de algumas Igrejas às determinações da Igreja de Roma. Para os protestantes, a ética não é baseada na revelação, mas nos valores éticos, examinados e procurados de per si. A revelação religiosa pertence à religião. O filósofo ético deve procurar os fundamentos ontológicos dessa disciplina, tão longe quanto lhe seja possível alcançar.
Kant, o quebra tudo, surge nesse contexto. Para Kant a Ética é autônoma e não heterônoma, isto é, a lei é ditada pela própria consciência moral e não por qualquer instância alheia ao Eu. Como vemos, Kant dá prosseguimento à construção da própria moral. Não espera algo de fora. Aquilo que o homem procura está dentro dele mesmo. Muitos são os filósofos que seguiram Kant. Depois destes, surgem Scheller, Müller, Ortega y Gasset etc., que penetram na ética axiológica, ou seja, estuda a ética do ângulo dos valores.
A Ética é especulação dos valores. Não resta dúvida que esse esforço histórico muito nos auxiliará numa melhor compreensão da moral e dos sentidos nela incorporados.
Fonte de Consulta
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Maltese, 1965.

Ética: resultado de Valores

Nos artigos 51, 52 e 53, anteriores, sobre a família, assunto retomado agora, incluindo, necessariamente, e acrescendo, o fator RELIGIÃO, há que dizer: família, religião e escola é o tripé da educação que forçosamente desemboca na moral (valores) e na ética (normas).
Como você leu (53), no seio de um grande número de famílias a moral está mudada, os valores são outros, a ética é outra.
Durante séculos, as religiões ocidentais, predominantemente a católica, acenou a revelação como caminho de conhecimento da verdade. “A teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação”, mas a religião não ensinou e não ensina como se chega à revelação. Apagaram os profetas e não disseram quem faria a revelação. Sem um rumo, sem uma bússola, fomos cada um para um lado. Assim não chegaremos a lugar nenhum. Como não chegamos.
Melhor dizendo, uns poucos, dentre nós, escolheram caminhos menos inseguros e optaram por buscar ao invés de ficar esperando a revelação. Estamos, aqui neste blog, caminhando, perseguindo e tentando alcançar o conhecimento e não ficar apenas sentados à espera de que o espírito divino revele-se para nós.
Como a revelação não veio ou não soubemos entendê-la, ficamos no escuro, perdidos, desorientados e, na maior das vezes, reféns de padres e pastores.
Vimos aqui, então, que duas das três pernas da realização humana pela educação, pela moral e pela ética, estão quebradas: família e igreja faliram. Num tripé, duas pernas quebradas quebram o resto. A terceira perna (quebrada) é a escola.
E a escola?
O que ensina a escola, desde que o professor foi desautorizado corrigir destemperos comportamentais dos alunos?
Tudo bem, um professor de má qualidade pessoal não deve, mesmo, corrigir ninguém.
Mas, quem autorizou o Estado a colocar em sala de aula um medíocre? Reduziu-lhe os ganhos e restringiu-lhe os poderes e passou a contar com um mestre sem mestrado, um professor sem cátedra.
A escola se fez monótona e o homem um estúpido.
A família que não prezou educar seus guris imaginando que a escola o fizesse, ficou na rua amargura. E a igreja que não investiu na maioridade espiritual de seus fiéis perdeu-os para os desregramentos todos, que assustam os poucos que ainda se mantém puros e sinceros.
Se você concordar, a charada está morta.
O processo desmoronou moralmente, eticamente, comportamentalmente, por falta de pais, mães, sacerdotes e professores.
O que se poderia esperar da civilização que aí está?

Esporo ou expurgo?

Agora, então, já podemos retomar a proposta (54) de abordar esporo ou expurgo.
Esporo é aquela prática (entre outras) de retirar da colméia o enxame excedente, pronto para alçar vôo. A matriz manda para a vida com autonomia a filial que já está pronta. Existe até uma teoria econômica com o nome do “esporismo”, completamente contrária à formação de cartéis empresariais. Isso, é esporo. Expurgo é aquela prática de expulsar de um organismo aquilo que o deturpa, prejudica, enfraquece, destoa.
Estou de volta à cátedra de Jesus e utilizo de todos os valores consagrados no cristianismo primacial para afirmar: Jesus, como governante deste planeta, segundo se diz, estaria optando pelo esporo ou pelo expurgo?
Aquelas levas espirituais que estão indo embora consumidas pelos crimes, drogas, imprudência ou ignorância, são partes de um esporo ou de um expurgo?
É um assunto enfadonho, mas os que estão indo são capazes de habitar outro planeta acima ou abaixo do estágio da Terra? Estariam indo promovidos ou expurgados?
Iriam para um planeta de inferior ou de superior qualidade?
Você, leitor, está em condições de opinar sobre isso?
Parece-nos que há três lados: (a) antecipar, apressar a saída daqui porque são chamados a uma dimensão superior; (b) serem levados a sair apressadamente para ocupar uma dimensão inferior; c) ficar e permanecer para purificar ainda mais o que temos aqui.
Em qual lado você acha que está?
Toda a reflexão pertence a você.

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