segunda-feira, 2 de abril de 2012

Faltou falar dela...

55. A Escola que temos

No seu mais profundo íntimo, como indivíduo isolado ou apenas familiar, o homem sempre demonstrou suas tendências virtuosas. Em grupo, em clã ou sociedade, sempre preferiu ou foi levado a ignorar essas tendências em troca de um prêmio menor em virtude e maior em vícios.
O homem agrupado parece ignorar a dimensão sagrada em busca de um mistério menor, de uma existência com foco na aquisição de poder, riqueza, prazer e luxo. Com egocêntrica finalidade. Ele disputa isso dentro do próprio grupo e também se une ao grupo para combater outros grupos pelos mesmos motivos.
A caminho do TER e desviados do SER, fizemos da escola, não a matriz de uma cultura evolutiva, como deve ser o seu papel, e ela muito contribuiu como grande formadora de inteligência e mão de obra para o mercado. Para o mercado, não para a vida. Fundamentamos o mercado na criação de objetos com conceito de poder, riqueza, prazer e luxo, para a abundância do TER e para a escassez do SER.
Não se quer condenar algozes e consolar vítimas de um processo cultural permeado de vícios, desvios, tiranias e avanços materiais. As sociedades ou etnias mais retrógradas bem como as mais evoluídas, para os padrões da cultura dominante, aprisionadas aos limites bíblicos, dogmáticos, científicos e constitucionais, foram levadas a constituir antíteses em tudo, abrindo o campo para que o lobo mau (Abraxas) da cátedra junguiana, pudesse emergir construindo a dualidade a partir das correlações feio-bonito, nobre-plebeu, crente-incrédulo, batizado-pagão, sagrado- profano, salvo-condenado, imperfeito-perfeito, lobo bom/lobo mau.
Todas as instituições destinadas a preparar o homem para a vida, posicionaram-se definitivamente num dos extremos duais (e não na construção da síntese) desta escala. Foi o que fizeram a família, a escola e as religiões. Contribuíram para o fracasso da idéia de libertação. Contentaram-se em apresentar aos homens uma caricatura de um Deus que se revelaria aos homens. Frearam as transformações evolutivas ao limitar a consciência dos seus fiéis e ao patrocinar a barbárie contra hereges e infiéis no contraponto da licenciosidade tolerada aos fiéis. Acabaram por prejudicar os dois lados.
Não sabemos a senha, perdemos a palavra de passe. Mas, há indicações. São os veementes apelos dos mestres do conhecimento libertador. Num deles há uma charada: “Conhece-te a ti mesmo, derrota o teu ego, funde-o com tua essência e SERÁS a criatura esperada a Oriente do Jardim do Éden”, onde “querubins armados de espadas flamejantes guardam o Caminho da Árvore da Vida”.
Alegoricamente, esta pode ser a Grande Passagem, Pessach ou Páscoa, uma Eureka ou Descoberta: estará perante estes querubins o homem, quando evoluído, dignificado perante si próprio e em relação a tudo mais, e souber e puder subir a escada e pronunciar a senha contendo a palavra perdida. Com muita certeza terá feito a sua reconversão como construtor, como colaborador, como aliado da obra que dá sustentação à Árvore da Vida e não a antítese dela, como conhecemos e lamentamos. Sairá da posição de Anjo Caído, que prefere contrapor-se ao Mestre dos Mundos e será promovido, enfim, a Anjo Recuperado.
O Homem terá completado sua trajetória na condição humana quando, segundo alguns pensadores, seu ego estiver fundido à dimensão espiritual, e não dual, isto é, quando completar o caminho de volta, como sugere o trecho já grifado, entre aspas. As seis principais correntes de fé do planeta, por diferentes concepções, pregam isso, mas preferem interpretar diferente, atribuindo a forças externas o desvio e o resgate. E o Retorno ao Oriente Sagrado certamente com algum atraso, poderá ter início.
A contagem de tempo decorrido e a espantosa evolução biológica e tecnológica não nos autorizam a celebrar nada. Somos crianças brigando por um brinquedo que machuca. Mas, a adolescência, a juventude e a maioridade estão à espera. Nem sabemos, verdadeiramente, em que altura da caminhada estamos. Há que reconhecer: nem mesmo conhecemos os critérios para definir nossa maioridade.
Importa que o interesse por desvendar do mistério, ainda que desviado do foco, nunca desapareceu. Para os “fora de foco” isso se chama revelação. Para os “dentro do foco” isso tem nome de hierofania: esforço por descobrir a senha que permita o acesso aos segredos sagrados e a proximidade com Deus.
“Buscai e achareis. Pedi e dar-se-vos-á. Batei e abrir-se-sevos-á”. Eis aí porque a hierofania, arte-ciência esotérica da busca do caminho sagrado ganha importância e dá muitos sinais de que nosso mergulho nas sendas do desconhecido deve prosseguir. Os resultados podem ser alvissareiros.

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