quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

970-Encontro com o Espírito em Sonho


Introdução I

Para encontrar o Espírito – conforme proposta desta série “Maioridade Espiritual” – nós temos um mapa e não basta abrir uma porta e apenas dizer : “muito prazer, senhor Espírito”. Antes, o procurador – e o procurador é sempre um curioso – precisa entender que o Espírito não está escondido, nem fechado, ele se mostra, conversa conosco, faz gestos, dá sinais, mas desespera-se com nossa insensibilidade. 

a. As escaramuças do Espírito

Em casos extremos – e já abordamos algo parecido anteriormente – surgem para nós perturbações capazes de chamar muita atenção por conta de seus efeitos. São rebeliões provocadas pelo Espírito para dizer “eu não estou brincando, quero dirigir os destinos desta vida que me pertence”.
E pensar que ainda tem gente que consegue confundir tudo e imaginar que tais perturbações têm origem numa entidade separada, imiscuída, intrometida, invasora, rival.
Uma interessante abordagem a este respeito pode ser encontrada em “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, em que Lèon Denis explica:
No seu conjunto, esses fenômenos demonstram que além do nível da consciência normal, fora da personalidade comum, existem em nós planos de consciência, camadas ou zonas dispostas de tal maneira que, em certas condições, se podem observar alternâncias nesses planos. Vê-se então emergirem e manifestarem-se, durante um certo tempo, atributos, faculdades que pertencem à consciência profunda, mas que não tardam a desaparecer para volverem ao seu lugar e tornarem a mergulhar na sombra e na inação.
O nosso “eu” ordinário, superficial, limitado pelo organismo, não parece ser mais do que um fragmento do nosso “eu” profundo. Neste está registrado um mundo inteiro de fatos, de conhecimentos, de recordações referentes ao longo passado da alma. Durante a vida normal, todas essas reservas permanecem latentes, como que sepultadas por baixo do invólucro material; reaparecem no estado de sonambulismo. O apelo da vontade e a sugestão as mobilizam e elas entram em ação e produzem os estranhos fenômenos que a psicologia oficial comprova sem os poder explicar.
Todos os casos de desdobramento da personalidade, todos os fenômenos de clarividência, telepatia, premonição, aparecimento de sentidos novos e de faculdades desconhecidas, todo esse conjunto de fatos, cujo número aumenta e constitui já um grandíssimo amálgama, deve ser atribuído à intervenção das forças e recursos da personalidade oculta.
O estado de sonambulismo, em que é mais comum a sua manifestação, não é um estado “regressivo” ou mórbido, como o julgaram certos observadores; é, antes, um estado superior e, segundo a expressão de Myers, “evolutivo”. (Denis trabalha incansavelmente o trabalho do pioneiro da Frederic William Henry Myers, contemporâneo seu). É verdade que o estado de degenerescência e enfraquecimento orgânico facilita, em alguns pacientes, o afloramento das camadas profundas do “eu”, o que é designado pelo nome de histeria. Tudo o que, de um modo geral, deprime o corpo físico, favorece, convém notar, o desprendimento, a saída do Espírito. A esse respeito, muitos testemunhos nos seriam fornecidos pela lucidez dos moribundos; mas, para avaliar somente esses fatos, é mister considerá-los principalmente sob o ponto de vista psicológico. Aí está toda a sua importância.
A ciência materialista viu nesses fenômenos o que ela chama “desintegrações”, isto é, alterações e dissociações da personalidade. Os diversos estados da consciência aparecem algumas vezes tão distintos e os tipos que surgem são de tal modo diferentes do tipo normal, que têm levado a crer que se está em presença de várias consciências autônomas, em alternação no mesmo paciente. Acreditamos, com Myers, que nada disso sucede. Há aí simplesmente uma variedade de estados sucessivos coincidindo com a permanência do “eu”. A consciência é uma, mas se manifesta de diversos modos: de maneira restrita, na vida normal, enquanto está limitada ao campo do organismo; mais completa, mais extensa em estados de desprendimento e, finalmente, de maneira cabal, perfeita, na ocasião da morte, depois da separação definitiva, como o demonstram as manifestações e os ensinamentos dos Espíritos. A desagregação é, pois, apenas aparente. A única diferença entre os estados variados de consciência é uma diferença de graus. Esses graus podem ser numerosos. O espaço que, por exemplo, medeia entre o estado de incorporação e a exteriorização completa parece considerável. A personalidade não deixa, por isso, de permanecer idêntica através da concatenação dos fatos da consciência, que um laço contínuo liga entre si, desde as modificações mais simples do estado normal até os casos que comportam transformação da inteligência e do caráter; desde a simples idéia fixa e os sonhos até a projeção da personalidade no mundo espiritual, nesse Além onde a alma recupera a plenitude das suas percepções e dos seus poderes.
Já no decurso da existência terrestre, da infância à velhice, vemos o “eu” modificar-se incessantemente; a alma atravessa uma série de estados, anda em mudança contínua. Não obstante, no meio dessas diversas fases, é invariável a fiscalização que exerce sobre o organismo. A Fisiologia salientou a sábia e harmoniosa coordenação de todas as partes do ser, as leis da vida orgânica e do mecanismo nervoso, que não podem ser explicadas sem a presença de uma unidade central. Essa unidade soberana é a origem e a causa conservadora da vida; relaciona-lhe todos os elementos, todos os aspectos.
Foi por uma conseqüência não menos perniciosa das teorias materialistas que os “psicólogos” da escola oficial chegaram a considerar o gênio como uma neurose, quando ele pode ser a utilização, em maior escala, dos poderes psíquicos ocultos no homem.
Myers, falando da categoria dos histéricos que conduzem o mundo, emite a opinião de que “a inspiração do gênio não seria mais do que a emergência, no domínio das idéias conscientes, de outras idéias em cuja elaboração a consciência não tomou parte, mas que se têm formado isoladamente, por assim dizer, independentemente da vontade, nas regiões profundas do ser”.
Em geral, aqueles que tão levianamente são qualificados como “degenerados” são muitas vezes “progenerados”, e nestes sensitivos, histéricos ou neuróticos, as perturbações do organismo físico e as alterações nervosas muito caracterizadas em certas inteligências geniais, como em outro lugar vimos (No Invisível, último capítulo), podem realmente ser um processo de evolução pelo qual toda a humanidade terá de passar para chegar a um grau mais intenso da vida planetária.
O desenvolvimento do organismo humano até à sua expansão completa é sempre acompanhado de perturbações, do mesmo modo que o aparecimento de cada novo ser na Terra é delas precedido. Em nossos esforços dolorosos para maior soma de vida, os valores mórbidos transmutam-se em forças morais. As nossas necessidades são instintos em fusão, que se concretizam em novos sentidos para adquirir mais poder e conhecimento.
Mesmo no estado comum, no estado de vigília, emergências, impulsos do “eu” profundo podem remontar até às camadas exteriores da personalidade, trazendo intuições, percepções, lampejos bruscos sobre o passado e o futuro do ser, os quais denotam faculdades muito extensas, que não pertencem ao “eu” normal.
Cumpre relacionar com essa ordem de fenômenos a maior parte dos casos de escrita automática. Dizemos a maior parte, porque sabemos de outros que têm como causa agentes externos e invisíveis.
Há em nós uma espécie de reservatório de águas subterrâneas, donde, em certas horas, rompe e sobe à superfície uma corrente rápida e em ebulição. Os profetas, os mártires de todas as religiões, os missionários, os inspirados, os entusiastas de todos os gêneros e de todas as escolas conheceram esses impulsos surdos e poderosos, que nos têm brindado com as maiores obras que hão revelado aos homens a existência de um mundo superior.
Continua.

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