quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

962-O Espírito


NADA SE ALTERARÁ, TUDO MUDARÁ
        
Se você compreende, as coisas são tal como são;
         se você não compreende, as coisas são tal como são.

Tudo não passa de que as nossas percepções e avaliações continuarão por muito tempo um pesadelo subjetivo e coletivo. Nossos sentidos comuns da realidade prática – do mundo, tal como o vemos numa manhã de sol – é uma elaboração de repressão e condicionamentos sociais, um sistema de falta de atenção seletiva, pelo qual aprendemos a eliminar aspectos e relações dentro da natureza das coisas que não estejam de acordo com as regras do jogo da vida civilizada. E, curiosamente, a visão quase sempre reforça a percepção de que todas as restrições sofridas pela nossa consciência não se afastam um milímetro da normalidade e da adequação de todas as coisas.
No mínimo, o homem carece de realimentar seu constante processo físico, emocional, psíquico, intelectual e espiritual em pólos que contemplem equilibradamente conteúdos de cunho social, político, religioso e econômico. E não é difícil compreender que o econômico dominou pelo lado puramente material de acumulação. Os homens se petrificaram. E pedras são pedras. Têm Espírito? Já existem estudos falando da energia das pedras, mas não se pode falar de espírito.

Que função tem o Espírito?

Na maioria dos casos, os estudiosos respondem: a supraconsciência. E o que seria a supraconsciência? Além de incomum, a definição para supraconsciência demorou ou está demorando a acontecer. Os vícios filosóficos herdados dos pensadores materialistas nos colocaram no paradigma de que o mundo, o homem e a natureza são relógios, cada qual com seu mecanismo regulado e previsível. Inventaram o deus sobrenatural, acima da natureza e colocaram o homem nem lá nem cá. Ainda que equivocada, esta visão, ao menos, serviu para forçar – porque isso seria inevitável – a busca pelo homem cético, mesquinho e limitado, o seu ingresso num mundo mais amplo, a procura de coisas que são e não são sondáveis por ele, que são menores que ele, do seu mesmo tamanho e maiores que ele. Por isso, mesmo, desafiadoras.
Para penetrar no mundo mais amplo, o homem necessitou, em primeiro lugar,  de livrar-se do pensamento egocêntrico da sua personalidade e, em seguida, estabelecer contato com um “Eu” mais abrangente e mais consciente do que o “eu” comum. E assim foi penetrando nas funções do cérebro para conhecer a mente. Ali não encontrou muito, apesar de conhecê-la só em parte. Penetrou na matriz do pensamento e chegou à vontade. Ao estudá-la percebeu sem muita certeza que esta matriz é um campo que se divide em três hemisférios: (1) o da vontade propriamente dita, ânima e animada em busca da realização de algo definido, preexistente; (2) o do juízo, consciência ou tribunal íntimo que aplica a ética, promovendo a fiscalização da execução do projeto preexistente; e (3) um terceiro hemisfério, amoroso, cósmico, inteligente, capaz de estabelecer as conexões acima e abaixo da inteligência que está em uso.
Todo o maravilhoso e complexo sistema biológico do homem está a serviço dessa matriz, cujo nome pode ser Espírito, pode ser outro. Mas, Jesus ensinou existir uma força cósmica, que chamou de Espírito Santo, da qual somos cópia, semelhança.

Temos um Espírito ou somos um Espírito?

Para chegar mais ao centro dessa luminosa criação que é o Espírito e seu invólucro, o corpo humano, o homem quis primeiro buscar saber sobre o cosmos. Voltamos ao começo: a parte pode conter o todo? Dizem os quânticos que sim. Então o homem é a cópia do cosmos.
A mais espantosa característica dessa experiência de perscrutar o desconhecido, é que há a convicção de que todo esse mundo inexprimível está “certo”, tão certo que nossas ansiedades comuns tornam-se ridículas e, se todos os homens pudessem ver o que os iniciados vêm e sentem, ficariam embriagados de alegria.
E nós nos imaginávamos iniciados. Estamos só na primeira fase do processo iniciatório. Por que nem todos alcançam os mais elevados estados de consciência? Alguns não querem ou têm medo, outros não sabem e finalmente outros jamais chegarão a ele: são pessoas que querem ter o controle de tudo o que acessam. Os desastres ecológicos, a vaca louca no meio, a gripe suína e, já, a clonagem humana, são apenas sintomas do que não está capaz o homem.
O mundo, que afinal de contas somos nós, nunca poderá ser subjugado por quem não o compreende. Sobre ele, temos vagas indicações, muitas vezes inexprimíveis. Concordamos com sua existência sem, no entanto, sermos capazes de dizer exatamente o que ele é. Não sabemos o que ele é. Sabemos apenas que é. Para descrever o que é, teríamos de saber classificá-lo, mas é óbvio que o “todo”, dentro do qual a multiplicidade das coisas se delineia, não pode ser classificado.
Voltando aos pontos de vista – que permeiam religiões, filosofias, ciências, políticas, e formam as ideologias e as teorias – é preciso dizer que o que existe de conhecimento é fragmento, por que o homem não é um todo, e não sendo um todo, será sempre parte, fragmento e fragmentado.
Talvez demore, talvez não, mas a definição de que somos espíritos em trânsito pela matéria, virá. E virá com sobras. Então a compreensão da vida será outra.

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