sábado, 26 de janeiro de 2013

965-Encontro com o Espírito


Você voltou?
Então vamos ao encontro com sua alma

Antes, porém, conheça a história de outro alguém numa situação parecida com a sua. Isto aqui é uma metáfora, uma lenda, um causo.
Era uma vez uma pessoa, comum, dessas que povoam nossas estatísticas. Lidava com as coisas e pessoas de sua vida de um modo bem conhecido, como será narrado. Tudo quanto saísse errado, tinha de ter um culpado externo. Algumas vezes eram seus pais, noutras seus irmãos, noutras mais o prefeito, o governador, o vizinho, o patrão ou os clientes, enfim, alguém, quem sabe, até mesmo, o professor, longínquo professor da adolescência.
Tudo quanto fizesse de errado, precisava ser escondido, jogado pra baixo do tapete, guardado num cantinho escuro da consciência, espécie de depósito.
No início, só algumas coisas eram guardadas. Depois mais, muitas coisas. Comno se sabe, o primeiro erro puxa o segundo, puxa o terceiro...
O depósito foi ficando cheio, inchado, transbordante...
Chegou um tempo em que o nosso personagem precisava inventar uma mentira para encobrir outra, arranjar um novo esconderijo para esconder um novo erro.
Como fantasmas, seus erros se agigantavam em seu íntimo. E ocupavam quase todas as suas energias. Se quiser, pode comparar com alguém que carrega uma enorme mochila às costas, sem nenhum conteúdo útil.
Por conta de se ocupar excessivamente com seus monstros íntimos, o nosso personagem já não sonhava com nenhuma coisa boa, não tinha tempo para imaginar coisas novas e boas. Todos os dias brigava com seus monstros, obrigando-os a permanecerem engavetados, encaixotados, arquivados, silenciosos.
Tinha dias que os monstros brigavam entre si, cada qual querendo ocupar maior espaço na mente do nosso personagem.
Por conta desse turbilhão de inquietações, vinham também as correrias e nosso personagem começou a faltar com suas obrigações, esquecer seus compromissos, sofrer pequenos acidentes, até que, um dia, foi além: teve uma enorme discussão com sua cônjuge, perdeu a cabeça, meteu a faca no peito da cônjuge, matou-a. E mais uma vez não assumiu seu erro: fugiu de casa, escondeu-se da polícia.
Veja, agora, já não eram apenas os seus monstros que estavam escondidos. O próprio personagem também já se escondia.
Mas, foi localizado, recebeu voz de prisão, não se entregou, tentou fugir mais uma vez e foi atingido pelas balas dos policiais. Morreu.
Dizem que chegou lá aonde chegam as almas que perdem o corpo e foi recebido como alguém que tem muitas sombras dentro de si. “A mochila não entra”, disse o porteiro. Como estava acostumado a arranjar desculpas, tentou explicar os culpados por toda aquela enorme ficha. Argumentou, inventou lorotas, mas nada adiantou.
O encarregado da entrada das almas merecedoras de honra, explicou que para ser Alguém nós temos de deixar de ser Ninguém.
“Mas, eu não sou ninguém, eu tenho uma identidade, endereço, cpf!!!”
A o que o porteiro retrucou. “Isso não prova nada. Você não foi você, você preferiu ser os fantasmas e as fantasias que você mesmo criou, por isso você é sua mochila. E aqui mochila não entra!!!”
Como você acha que esta história acaba?
Nós iremos concluí-la na próxima mensagem.

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