segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

955-Estados e Estágios de Consciência


Para reabilitar o Espírito

Aquilo que chegou a ser denominado dignidade da modernidade, significada pela independência da ciência em relação ao absolutismo político e religioso, hoje, em um sentido, se tem certeza, pode ser rotulado como o desastre da modernidade. Alguns cientistas e filósofos já sabem disso. Hegel, Heidegger, Horkheimer e Habermas, no Ocidente, chamaram a atenção para isso. Livres, autônomas e atéias do ponto de vista do controle clerical as ciências, as artes e a moral (diga-se ética) produziram um grande avanço nas consciências humanas, mas deixaram livres, autônomas e crentes as igrejas que estacionaram no que se pode chamar de pós-mítico e renunciaram avançar com o conhecimento religioso. Estão lá no passado. O desenvolvimento espiritual não aconteceu. Nem mesmo a cátedra de Jesus conseguiu chegar íntegra ao Iluminismo (século XIX) e este movimento, então, dadas as divergências com a Igreja, aproveitou para apagar todas as luzes de espiritualidade que ainda poderiam existir.
Para Wilber (já referido), a racionalidade técnica colonizou o mundo da vida. A guerra que se travou entre a Ciência nascente e a Igreja dominante, inicialmente com aquele processo absurdo que esteve a um passo da execução de Galileu, por haver ele descoberto que a Terra não era, como diz a Bíblia, o centro do mundo, começou por considerar que aquilo exercido pela Igreja representava o todo do aspecto espiritual do homem: a castração. A Ciência queria entender que acreditar nos escritos simbólicos de um “livro sagrado” não era muito diferente que acreditar nos deuses do Olimpo. E assim, o aspecto espiritual, entendido como coisa da Era Mítica, deveria ser descartado, como, de fato, o foi. E permaneceu à margem por todo este tempo. Talvez ainda esteja lá.
Depois que a espiritualidade, como um todo, foi descartada, o modo de discurso dominante não apenas tornou ilegal a espiritualidade mítica ou pré-racional (o que pode ser aceito), como também a espiritualidade racional e pós-racional (o que foi um crime). Isso explica a dificuldade do kardecismo ser entendido na Europa e nos Estados Unidos, principalmente, por que são as regiões mais profundamente impactadas pelo Iluminismo.
Mas, os novos, modernos e pós-modernos tempos chegaram. A linha moral e a linha estética (aquelas da questão das esferas de valor) que foram forçadas a assumir o lugar da espiritualidade, estão cedendo espaço porque espiritualidade é coisa mais ampla. Intelectuais liberais modernos que deixaram de ter religião, tinham apenas arte e moral. Em seguida arte e moral desabaram sob o peso da ciência racional, que colonizou as outras esferas de valor e que, por algum motivo, tornou-se a “religião” dos intelectuais iluministas. Deus havia sofrido uma repressão catastrófica, através da ciência. E dormindo sobre o poder temporal esse crime recebeu as bênçãos papais, dos infalíveis papas, porque silenciaram apavorados pela hipótese de serem alcançados pelas cobranças. E terão que responder por esta falência disfarçada de infalibilidade.
Deixa estar, que a integralidade humana parcialmente castrada continuava a pedir e a cobrar espaço para a espiritualidade. Cientistas da estirpe de Einstein falavam nisso. Com a andança, em geral, observa-se três grandes etapas, compreendidas (1) a religiosa como a infância humana, em que os alunos, por necessidade ou dependência seguem os pais, professores e sacerdotes sem contestação; (2) a espiritual como a vida adulta, que começa pela rebeldia do adolescente, passando pelas contradições e pela insatisfação que levará o jovem a amadurecer e a alcançar a segurança e a independência sonhada pelo adulto; (3) a mística como a da maturidade em que, crescido, o buscador espiritual quer a meta suprema, que só pode vir com a ajuda do alto, por mérito, subordinando seu ego às Leis de Deus. Boa parte da Ciência tendo transposto o nível dois, inaugura-se a fase três, como se torna possível compreender.
Aquele segmento do pensamento religioso não evoluído tornou-se fundamentalista: seus seguidores acreditam naquilo que acreditam não porque seja racional, mas porque alguém lhes disse que é assim e teimam por teimar. Isso é fundamentalismo. Todas as religiões evangélicas e seus milhões de “cordeirinhos” e “fanáticos” são frutos desse desastre da modernidade.
Outra forma de desastre ocorre com milhões de estudantes universitários, oriundos de famílias contaminadas por estas mesmas tradições religiosas: eles são ridicularizados em sala de aula sempre que tentam falar de Deus com a maioria de seus professores e colegas. Tomados de frustrações, caem em um vazio cultural de difícil recuperação e não raro vão embriagar-se com algo que entorpeça suas mentes.
O homem desses últimos 500 anos cresceu aleijado: a cabeça (representada pelo cientificismo) se tornou enorme; o coração (representado pela ética) quase parou de bater; a alma (carente de espiritualidade) foi buscar socorro no alcoolismo, nas drogas e nos últimos resquícios do xamanismo; o corpo adoecido, tornou-se refém das poções mágicas laboratoriais infalíveis no combate aos sintomas, só aos sintomas.  A cura ficou adiada.
Nessa selva brutal de desvios, perdas e descaminhos atuam algumas filosofias da religação daquilo que desligou, entre as quais se inscreve o espiritismo. E a esperança agora se volta para aqueles cientistas que se convencem da necessidade de retomar o desenvolvimento da inteligência espiritual, esquecida nos Concílios e definitivamente condenada depois que ciência e religião (religião vista como congregação estrutural, empresa) passaram a ser adversárias.
Os experimentos revelados pelas últimas notícias científicas dão o tom do que vem por aí nessas próximas décadas.

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