terça-feira, 8 de maio de 2012

Série: Antes e depois do Armagedom (VIII)


84.O desencanto final de Hitler

Uma das razões mais remotas da aparência cinzenta e desencantada de Hitler, resultou do choque que ele teve, nove meses antes quando do atentado cometido contra a sua vida. Naquela ocasião, no dia 20 de julho de 1944, um grupo de conspiradores, quase todos altos membros da hierarquia militar e integrantes da nobreza alemã, conseguiram fazer com que o coronel do estado maior Claus Schenk von Stauffenberg, colocasse uma bomba no quartel-general do Alto Comando. O artefato explodiu na sala de reuniões onde Hitler estava presente, mas apenas provocou pequenas escoriações nele. Refeito do susto, o ditador ordenou uma caçada em massa contra todos os envolvidos, que terminaram executados depois de serem sumariamente condenados à morte num Tribunal Popular. O outro motivo que levou Hitler a desejar suicidar-se, e em seguida ser incinerado, decorreu da notícia que ele recebeu do destino infausto do ditador fascista Benito Mussolini. O Duce fora capturado em Dongo, no norte da Itália, por partisans comunistas, e seu corpo foi exposto, pendurado de cabeça para baixo num posto de gasolina em Milão, junto ao da sua amante Claretta Petacci, em 28 de abril de 1945. Hitler temia que seu cadáver fosse profanado ou levado como troféu de guerra para a URSS.
Poucos dias depois de ter tomado a decisão definitiva, resolveu formalizar sua união com Eva Braun, sua assessora e conselheira, encomendando um casamento de emergência dentro do abrigo. O casal decidira por fim à vida juntos. Hitler tinha-se mantido solteiro, até então, em nome da mística que sua solitária figura messiânica exercia sobre o povo alemão. O salvador não poderia ser um homem comum, com esposa e filhos, envolvido pela contabilidade doméstica, e na rotina matrimonial burguesa.
Teve ainda um espumante ataque de fúria quando soube (ele, mesmo nos estertores, ainda era informado de tudo), que Heinrich Himmler, o Reichsführer SS, havia, às suas costas, à socapa, contatado com o legatário sueco, o conde Bernadotte, para negociar uma paz em separado com os exércitos ocidentais, que avançavam Alemanha adentro vindos do Rio Reno. Numa das suas derradeiras ordens, determinou a expulsão sumaria de Himmler do Partido Nazista, exonerando-o de todos os cargos de chefia. Mas aquela altura de nada adiantava.

O momento final se dera no dia 29 de abril. O General Weidling, governador militar de Berlim e comandante da 56ª Panzer Corps, ainda aventou a possibilidade de uma escapada pelas linhas soviéticas, mas Hitler o dissuadiu. Não tinham nem tropas, nem equipamento, nem munições, para qualquer tipo de operação. A solução era ficar e morrer!

O Führer então despediu-se formalmente das pessoas mais próximas que ainda o seguiam até aquele momento. Pressentindo o suicídio, os que estavam no bunker reagiram de uma maneira inesperada. Muitos, após colocarem discos na vitrola, puseram-se a dançar e alegremente, confraternizaram com os demais, como se um esmagador peso, repentinamente, tivesse sido removido de cima deles. O fascínio de feiticeiro que Hitler exercera sobre eles cessara como que por encanto.

Depois do almoço, no dia 30 de abril, trancou-se com Eva Braun nos seus aposentos. Ouviu-se apenas um tiro. Quando lá penetraram encontraram-no com a cabeça estraçalhada à bala e com a pistola caída no colo. Em frente a ele, em languidez de morta, estava Eva Braun, sem nenhum ferimento visível. Ela ingerira cianureto, um poderosíssimo veneno. Eram 15:30 horas! Rapidamente os dois corpos, envolvidos num encerado, foram removidos para o pátio e, com o auxilio de 180 litros de gasolina que os embeberam, foram incendiados numa vigorosa pira. Ao redor deles uma silenciosa saudação fascista prestou-lhes a homenagem derradeira.

Lá fora, a capital do IIIº Reich também ardia num colossal braseiro. Monumentos, prédios públicos, palácios, edifícios, casas, praças e avenidas, pareciam um entulho só. Os sobreviventes apavorados com o terrível rugido dos canhões e das bombas, que lhes soavam como se fosse o acorde final do "Gotterdammerung", o wagneriano "Crepúsculo dos Deuses", acreditavam que a hora do apocalipse chegara. E, de fato, eram legítimas imagens do Armagedon, descrito no Apocalipse de João.
Berlim, com 250 mil prédios destruídos, virara um cemitério lunar. Os pássaros voadores jogavam ovos de fogo sobre uma cidade. João não podia imaginar a futura invenção e utilização do avião numa guerra. Mas, o chamou de pássaro voador.
A grande cidade, transformada em ruínas, assemelhava-se a um fantástico mausoléu erguido pela barragem de fogo aliada para sepultar uma das monstruosidades do século a assinalar a decadência de uma civilização de 7 mil anos.
Hitler suicidara-se aos 56 anos, e o seu regime, que segundo seus propagandistas mais pretensiosos deveria ser o Reich de Mil Anos, naufragou com ele doze anos depois dele ter assumido a Chancelaria da república alemã, em janeiro de 1933.
Estava encerrada a Batalha do Armagedom e afastada a figura humana do papel de Besta do Apocalipse.

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