quarta-feira, 16 de maio de 2012

O Futuro da Sociedade (II)


91. Não esgotar as possibilidades, jamais

Responsabilidade dos líderes

Note o leitor que quando o redator do blog chama a atenção dos líderes para uma maior participação no Legislativo, Executivo e Judiciário de todas as esferas administrativas, é porque se a sociedade não assumir o seu papel, este papel será assumido pelo traficante, pelo corrupto, pelo capitalista sujão ou agiota, pela mídia sensacionalista, etc.
O pressuposto inerente a esta maneira de pensar o futuro está atrelado à uma concepção de ciência potencializadora de milhares de novas possibilidades e criações; mas a tradução da ciência em prática cotidiana comporta operações complexas e dispendiosas e exige que os grupos dirigentes percebam as oportunidades disponíveis e escolham a implementação das aplicações que devem chegar aos destinatários finais, que é a sociedade.
Posições como essas nos auxiliam a entender a complexidade do ser humano em se situar neste mundo. O futuro como campo de possibilidade deve estar relacionado a um entendimento de realidade atual; que ela seja interpretada pelo desconforto atual, pelo inconformismo diante disso e pela indignação que deve eclodir para sensibilizar os pesquisadores, os cientistas, os legisladores, os fiscais.
As transformações vividas pela humanidade nos colocam uma série de perspectivas diante das quais, mais de que simplesmente aderir ou renegar, devem implicar em caminhos fecundos que busquem compreender histórica e criticamente suas manifestações nos âmbitos epistemológico e político. A perspectiva mais patente com a qual se defronta o homem hoje é a pós-modernidade, abordada por diversos autores, entre eles Harvey (1994) e Santos (2000a e 2000b). Este último autor, ao traçar a sua análise, afirma: “A crítica da razão indolente (2000a), mergulha com afinco na transição paradigmática que a humanidade vive, considerando-a "um período histórico e uma mentalidade. É um período histórico que não se sabe bem quando começa e muito menos quando acaba. É uma mentalidade fraturada entre lealdades inconsistentes e aspirações desproporcionadas entre saudosismos anacrônicos e voluntarismos excessivos. Se, por um lado, as raízes ainda pesam, mas já não se sustentam, por outro, as opções parecem simultaneamente infinitas e nulas. A transição paradigmática é, assim, um ambiente de incerteza, de complexidade e de caos que se repercute nas estruturas e nas práticas sociais, nas instituições e nas ideologias, nas representações sociais e nas inteliligibilidades, na vida vivida e na personalidade. E repercute-se muito particularmente, tanto nos dispositivos da regulação social, como nos dispositivos da emancipação social. Daí que, uma vez transpostos os umbrais da transição paradigmática, seja necessário reconstruir teoricamente uns e outros".
O autor está disposto a percorrer conosco um longo caminho, partindo da consideração de que as sociedades e as culturas contemporâneas são intervalares: situam-se no trânsito entre o paradigma da modernidade, que não cumpriu algumas promessas e cumpriu exageradamente outras, conforme veremos mais adiante. E atravessar um paradigma emergente ainda difícil de identificar.
Esta transição tem duas dimensões principais, segundo ele: a epistemológica e a societal. A transição epistemológica ocorre entre o paradigma da ciência
moderna (conhecimento-regulação) e o paradigma emergente do conhecimento útil para uma vida decente (conhecimento-emancipação).
A transição societal, menos visível, ocorre entre o paradigma dominante - sociedade patriarcal: produção capitalista, consumismo individualista e mercadorizado; identidade-fortaleza; democracia autoritária; desenvolvimento global, desigual e excludente - e um novo paradigma, ou conjunto de paradigmas, podendo apenas vislumbrar traços e sinais.
O que nos parece relevante da obra de Santos e que nos conduz ao âmago de nosso objeto de estudo é o combate à razão indolente e cínica que alimenta o inconformismo com uma situação de injustiça e opressão. Isso é, é o encaminhar de uma teoria que permita reinventar os caminhos do inconformismo contra toda forma de naturalização da opressão, coisa enraizada entre nós. Mais ainda, o autor recorre a uma tradição marginalizada da modernidade que é o pensamento utópico. Enfim, se a educação é uma prática social, se a liderança é um caminho e se a pedagogia é a ciência que se ocupa da educação, se as incertezas e o caos provocado pela transição que vivemos ameaça as práticas sociais reduzindo-as ao que existe e negando a possibilidade do devir, cabe aos líderes desta sociedade (não as elites) chamarem para si a responsabilidade de provocar a virada.
Se o processo de formação da consciência não considerar tais equações, é bem provável que a pedagogia continue flutuando eternamente entre tecnicismos-metodológicos e sociologismos-voluntarísticos, fraturando saberes e gerando uma postura teórica inconsciente e incoerente e uma conseqüente prática esterilmente eclética, neutra e ineficaz naquilo que é próprio da educação e da condução do povo, enquanto prática social num projeto de humanização.

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