terça-feira, 15 de maio de 2012

O Futuro da Sociedade (I)


90. Não esgotar as possibilidades, jamais

Introdução

Os Novos Tempos inaugurados pelo ano de 2012, diante da possibilidade de representar o ANO ZERO da Era de Aquário, abrem um debate que vai bater à porta do pai, da mãe, do terapeuta, do empresário, do síndico, do político, do educador e de todos quantos tenham responsabilidades pessoais diante de pequenos, médios e grandes grupos humanos a partir de agora. Ficam para trás a fragmentação, a efemeridade, a superficialidade, a irreverência e todas as demais formas de lidar com a vida. Agora não vale mais o pouco profundo. Os simples debates teóricos e acadêmicos que só tinham como resultado oferecer palco a algum iluminado (aquele não tem luz, está debaixo da lâmpada), cedem lugar a quem sai debaixo da lâmpada para ser a própria lâmpada. Significa que os Novos Tempos serão tempos de escolhas não neutras nem arbitrárias.
A Europa está pegando fogo ao lado dos países africanos e médio-orientais.
As abordagens teóricas ou acadêmicas terão de ter respaldo em concepções epistemológicas da realidade, em estreita articulação com as relações sociais concretas, a começar pelo modelo de sociedade caótico que reproduzimos todos os dias, a continuar pela matriz econômica equivocada que achamos ser a única possível.
Assumir tal pressuposto é essencial para quem está diante de liderados, para quem conduz uma família, um grupo familiar, um condomínio, uma associação, uma escola, uma empresa, uma igreja, um poder governamental, e se faz educador por profissão ou por conseqüência naquilo que a Educação tem de mais vital: LIBERTAR,
Uma vez que o ato de educar implica em uma prática social que não é neutra e nem arbitrária, também o papel do novo líder social não será neutro, nem arbitrário. É mister para o novo líder aqui desenhado (eu e você) adquirir uma lucidez intelectual e assumir uma postura epistemológica que:
  • questione a realidade social, política, econômica, religiosa e, portanto, educacional, com vistas a melhorar o processo;
  • lhe permita escapar das armadilhas de um moralismo voluntarista que conduz a adotar posições contra ou a favor de um relativismo que conduz a uma epistemologia fastfood, de determinismos estruturais, de reducionismos, que apenas contribuem para o empobrecimento da complexidade humana;
  • vá buscar adesões onde sempre houve desde que não as oportunidades não venham marcadas por ideologias destinadas a sustentar gangues de poder;
  • capacite as pessoas a intelectualmente resolverem suas crises sem muletas ou instrumentos de fuga, que tantos prejuízos trazem.
Os 2.156 anos que se iniciarão em 2012 da Era Cristã, na verdade, o Terceiro Milênio da Ciência Cristã (não confundir com a religião que tem este nome) serão anos de Aquário, de CONHECIMENTO e HUMANIZAÇÃO encarados como a eliminação das INCERTEZAS e dos RELATIVISMOS.
Esta nova série dentro da Proposta do Blog não quer ensinar nada, quer sinalizar, propor, cobrar uma postura teórico-metodológica das lideranças deste novo tempo que seja a base de um processo de competência para o profissional que lidera e educa. Começa por exigir um desafio inicial de situar o contexto de crise dos paradigmas nas ciências sociais.
Para auxiliar na compreensão da problemática das transições que assistimos hoje, servimo-nos principalmente das idéias do sociólogo italiano Domenico De Masi (1999), que retratam com muita propriedade a sociedade pós-industrial, de Harvey (1994), com sua resistência a todo movimento que
aniquile a esperança e a utopia da humanidade, e de Santos (2000a e 2000b), cuja análise da transição entre modernidade e pós-modernidade bem ilustra a histórica hegemonia e a atual crise da racionalidade
técnica.
A complexidade da realidade chamará em causa, também Morim (2000) e Gadotti (2000), que firmarão como princípio educativo dos nossos dias a transdisciplinaridade, enquanto possibilidade de convivência e de enfrentamento de uma lógica disciplinar presente em nosso dia-a-dia.
O sociólogo italiano Domenico De Masi (1999) nos oferece um retrato completo da sociedade pós-industrial, centrando a hipótese de que nos encontramos mergulhados em uma era de pressupostos econômicos, sociais, políticos e religiosos e de visão da realidade qualitativamente diferenciada em relação à era da indústria. Trata-se não apenas de um novo estágio da sociedade industrial, mas um salto qualitativo em relação ao período anterior. Não é intenção aprofundar a multiplicidade desses fenômenos, mas extrair de suas trajetórias alguns elementos que reforcem um quadro epistemológico para o líder baseado na possibilidade, na mudança possível, na incerteza e na não inexorabilidade do futuro, e da conseqüente necessidade de engajamento.
A sociedade industrial, período que convencionamos situar entre a metade do século XVII e a metade do século XX, representa uma fase muito mais reduzida do que todas as fases históricas anteriores, caracterizadas sucessivamente pela caça, pelo pastoreio, pelo trabalho agrícola, pela transformação mercantil e que para cada pequeno avanço exigiu séculos de experiências. É bem verdade que a sociedade industrial não se formou de repente, e tampouco foi ultrapassada de repente pela sociedade pós-industrial, mas trouxe um turbilhão de mudanças estruturais em nossa sociedade e promoveu uma brutal transformação no modo de vida das pessoas.
Já no final do século XVI, Francis Bacon afirmava apaixonadamente que a ciência deveria ingressar triunfalmente na prática cotidiana da vida. Isso aconteceu. No fim do século XVIII e no início do século XIX houve toda uma preparação para isso e a ciência conseguiu elaborar modelos teóricos satisfatórios da sociedade industrial. Mas, pecou em relação ao campo social e religioso.
Não é só De Masi que analisa a conjuntura destes últimos tempos colocando de um lado os otimistas com as mudanças em andamento e, de outro, os pessimistas imaginando que nada vai dar certo. A húngara Zsuzsa Hegedus, membro da escola de Lukáks acrescenta sua visão sobre as transformações ocorridas na sociedade até sua caracterização como sociedade pós-industrial. Trata principalmente da tomada de consciência sobre a problemática ambiental e por extensão da questão da sustentabilidade e/ou necessidade de um uso responsável dos recursos naturais no presente considerando as futuras gerações. Em 1972, no seu relatório “Limits to Growth” demonstrou a existência de um limite entre o esgotamento dos recursos naturais em face da atividade econômica. E convocou o planeta a encontrar meios de compatibilizar a conservação ambiental e o crescimento econômico. O Relatório Brundtland, publicado em abril de 1987, estabeleceu conceito importante sobre desenvolvimento sustentável, como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades. Ensina que a efetivação de práticas visando o desenvolvimento sustentável com harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos, significa e implica num processo de mudança de valores de toda a sociedade – governos, empresas, cidadãos (consumidores) –, que deve ser avaliada sob a perspectiva da globalização e da magnitude dos impactos causados pelas decisões e avanços tecnológicos da sociedade atual, que chama de sociedade de riscos.
A síntese de Hegedus é direta: a sociedade industrial que se consolidou a partir das contribuições da ciência teve quatro alicerces: a) a fábrica enquanto local preciso de produção; b) a oposição entre empregadores e dirigentes por um lado e classe operária, do outro; c) uma dimensão nacional do sistema; d) uma hierarquia entre vários países com base em seu produto interno bruto.
As quatro características, com o advento da passagem para a pós-modernidade, apresentam-se modificadas. Em primeiro lugar é mais complicado identificar qual seja o local de trabalho; em segundo, as relações sociais não se situam com facilidade no tempo e no espaço, fazendo com que se dilua a imagem de duas classes contrapostas; em terceiro, houve mudanças nas relações internacionais, dificultando a identificação do país e do organismo, do público e do privado; enfim, a hierarquia mudou entre as nações, o Terceiro Mundo (que continua terceiro) continua dependente, mesmo que não colonizado; há países na vanguarda em alguns setores e atrasados em outros. Em vez de trazer soluções, a globalização aprofundou as divisões e exclusões.
Mas o esquema representativo mais significativo traçado por Hegedus, no entender de De Masi, é que "pela primeira vez na história da humanidade o futuro é um problema social, não um problema natural: para saber se haverá alimentos suficientes não será preciso ir ver o que acontece nas florestas da África, mas o que está sendo preparado nos laboratórios de Stanford ou do Massachussets Institut of Tecnology. Na sociedade industrial, era a indústria que definia o futuro do homem, e o problema que se colocava aos trabalhadores era influenciar esta definição. Hoje, ao contrário, trata-se de exercer esta influência na sede onde são tomadas as decisões estratégicas, onde, por exemplo, se escolhe se e como devem ser produzidas mais bactérias para fins bélicos, ou mais proteínas para fins nutritivos" (De Masi, 1999, p.68)

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