sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Futuro da Sociedade (IV)


93. Não esgotar as possibilidades, jamais

A Europa reage tarde

Isto é, reage um pouco tarde, mas isso não quer dizer que não tenha uma saída honrosa. Talvez tenha...
Qual é a leitura que se faz do panorama sócio-político-econômico da Europa de antes, durante e depois do Euro?
A Europa capitulou para os agiotas.
Os trabalhadores e os empresários foram derrotados pelos bancos e pela bolsa de valores. Bem igual ao que acontece aqui, em que quem trabalha e poupa é espoliado pelos bancos e pelas bolsas, tendo os governos por cúmplices.
Chega um momento em que vaca pára de dar leite. O dono da vaca vende-a para o açougue e vai a procura de outra vaca, mas o leite não tem mais para quem trabalha (perde o emprego, reduz ganhos) e também não há mais leite para quem faz queijo, manteiga, nata (o mercado está em recessão).
Trabalhadores e empresários, apenas esses, são chamados a pagar a conta, enquanto o dono da vaca (o banqueiro, o mega investidor) parte para outra.
O sistema capitalista baseou-se no individualismo para firmar sua ideologia. Você trabalha, ganha o mais que puder, guarda, investe, multiplica, e se serve do esforço de outros para ganhar ainda mais. Todos fazendo isso, aonde isso vai parar? Vai parar aonde já parou: uma parte já fez o que tinha que fazer e destronou do sistema aqueles que não souberam fazer a sua parte. Por isso temos grandes fortunas cara-a-cara com grandes misérias.
Se olharmos para a vida veremos que nos sistemas vegetais e animais estão grandiosos exemplos inclusivos e não excludentes. A colméia de abelhas é, talvez, o melhor exemplo, que também é encontrado no formigueiro, mas como abelha nos servem e formigas nos atrapalham, sempre iremos preferir ficar com o exemplo da colméia. Mas, os cardumes de peixes, os bandos de pássaros, as manadas de búfalos, a varas de porcos-do-mato e os coletivos de tantos outros bichos “não inteligentes” ensinam que solidariedade não faz mal a ninguém.
Mas, diz isso ao banqueiro diante do devedor sem recursos para devolver o empréstimo?
Nas comunidades indígenas ao faltar alimentos os adultos aptos diminui-se 25% da ração num primeiro momento para todos, enquanto os guerreiros saem para arranjar comida. Persistindo a carência, os velhos reduzem mais 25% a ração. Persistindo a carência, os adultos aptos reduzem mais 50% a ração e assim sucessivamente, alcançando depois as mães em amamentação e muito depois as crianças. Ao chegar ao ponto de reduzir 25% a alimentação das crianças, os adultos aptos já estão com só 25% da ração, os velhos já estão com só 50%, o mesmo acontecendo com a mães. E esse é o ponto em que a assembléia comunal decide mudar-se de região.
Esses nativos sabiam, sabem, mais que o homem capitalista, mas foi, exatamente, o homem capitalista que avançou sobre suas terras, tomou-as para si, escravizou os índios pela força e impôs à América índia o seu modo europeu capitalista de conquista.
Eram tão sociais e comunitários os nativos que a experiência escravocrata não funcionou com eles. Retirados de sua aldeia e levados para os canaviais e lavouras, os varões adoeciam rapidamente. Causa: saudade, impossibilidade de viverem distantes de seus iguais. Essa realidade fez com que se trocasse o índio pelo negro e se estabelecem as senzalas, onde havia o convívio dos iguais.
O que isso tem a ver o com o modelo capitalista? Tudo.
Nós começamos pensando individualistamente, fomos renunciando o espírito comunitário, fomos substituindo a solidariedade pela caridade e assim a corrida tecnológica, hoje, nos impõem viver perto, porém distantes de nossos familiares, dependurados nos computadores, nas tevês, nos leptops, nos celulares, nos ipods, ipeds, tablets e outros maravilhosos inventos que, cada dia mais tiram nosso dinheiro e nos devolvem solidão.
Veja como estão os conglomerados residenciais urbanos: os vizinhos de porta não se conhecem, não trocam experiências, não se apóiam, não se ajudam, como se apoiavam e se ajudavam os vizinhos rurais de outros tempos. Os problemas da comunidade, hoje, são resolvidos por terceiros porque os donos do personagem centrais se negam participar, discutir, sugerir, ajudar. Pagam para não se incomodar. São totalmente anti-sociais, talvez solidários, mas contribuem para instituições de caridade por pura descarga de consciência. Haveriam muitos outros exemplos, se quiséssemos prosseguir...
Esse modelo de sociedade e esse modelo de economia estão furados, precisam ser substituídos. Temos aí, talvez, mil anos para fazer isso, mas eu e você precisamos fazer isso desde agora. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DE MASI, Domenico. A sociedade pós-industrial. São Paulo: Senac, 1999.
ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação, crise do trabalho assalariado e do desenvolvimento: teorias em conflito. In: FRIGOTTO, Gaudêncio (org.) Educação e crise do trabalho. Perspectivas de final de século. Petrópolis, RJ; Vozes, 1998, p.25-54.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Peirópolis, 2000.
GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.
HARVEY, David. A condição pós-moderna. Uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1994.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita. Repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
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_________. Pela mão de Alice. O social e o político na pós-modernidade. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2000b

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