sábado, 12 de maio de 2012

A misteriosa China

87. Manancial de superstições chinesas

Para alguns estudiosos, o taoísmo é a viga mais forte do templo espiritual chinês, e sua influência sobre práticas típicas da cultura chinesa, como o feng shui e o tai chi chuan, são provas disso. A palavra Tao – “caminho” ou “curso” em mandarim – indica a força primordial que mantém o Universo em equilíbrio. Não é uma divindade antropomorfa, à maneira judaico-cristã, mas uma espécie de energia impessoal que se move por trás de tudo que existe. Segundo o taoísmo, o fluxo do Tao é regido pela transição entre yin e yang, os pares de opostos que formam o cosmos: macho e fêmea, luz e sombra, quente e frio etc. Essas idéias são antigas como a China e remetem aos xamãs da Pré-História – mas o primeiro a elaborá-las em forma de filosofia foi Lao-tsé. Embora não se saiba ao certo se ele viveu uma geração antes ou 100 anos depois de Confúcio, todas as referências concordam que ele foi o autor do primeiro cânone do taoísmo, o Tao Te Ching ou “Clássico do Caminho e da Virtude”.
Se o ideal de Confúcio era reformar a sociedade, o de Lao-tsé era harmonizar o ser humano com o Cosmos. “O homem segue a Terra, a Terra segue o Céu, o Céu segue o Tao, e o Tao segue a si mesmo” – é um dos versos mais famosos de sua fascinante e obscura obra. Mais individualista que Confúcio, Lao-tsé pregava uma vida simples, em comunhão com as energias da natureza e longe das turbulências da política. Essa busca de equilíbrio entre o indivíduo e o Universo é o que rege, ainda hoje, a disposição das mobílias segundo o feng shui, os movimentos do tai chi chuan e os exercícios de disciplina das artes marciais chinesas.
“Até o século 4, o taoísmo era uma filosofia de vida, principalmente. Depois, tomou ares de religião”, explica o sinólogo Bueno. Em sua vertente mística, o taoísmo se aproxima do animismo – a idéia de que todas as coisas, incluindo pedras e plantas, são dotadas de “espírito” e “poder”. Daí a multidão de feitiços, encantamentos e simpatias que o taoísmo assimilou com o tempo. Na Idade Média, os sacerdotes taoístas não se limitavam a meditar: praticavam a alquimia, buscavam a imortalidade em elixires mágicos e diziam ter super-poderes, como o de voar pelos céus à noite. Ao lado da vertente filosófica, muitas superstições do panteão taoísta continuam vivas até hoje. Um exemplo: quando um chinês tem problemas domésticos, costuma pôr a culpa na presença de gênios mal-humorados em sua casa. O jeito é contratar os serviços de algum sacerdote taoísta especializado em exorcismos – cujos rituais se parecem com os da umbanda brasileira, com direito a banhos de sal grosso e golpes de folha de arruda nos exorcizados. “Mesmo para quem vem de um país como o Brasil, a quantidade de crenças e superstições populares que existem na China é enorme”, diz a antropóloga especialista em China, Rosana Pinheiro Machado, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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