sábado, 1 de dezembro de 2012

930-Iniciar-se para o Discernimento


O outro nível da Verdade

O discernimento é a percepção direta da verdade sem o processo da deliberação conceitual. O processo da deliberação divide a mente com o batalhar das antíteses, então as imagens escondem-se como as estrelas atrás das densas nuvens dos raciocínios. Devemos aprender a pensar com o coração e a sentir com a cabeça. Neste estágio, nosso Espírito agradece e vem participar das elaborações e decisões.
Nossa mente deve se tornar delicadamente sensível. A mente deve liberar-se de todo tipo de travas culturais para compreender a vida livre em seu movimento. Nós admiramos a intrepidez. Mas, a intrepidez não pode ser apenas fruto do instinto ou da vontade fortuita, ela precisa ser fruto da vontade íntima, pois a vontade reside na consciência.
Os desejos, no geral como produtos do instinto, são travas para a mente. Os prejulgamentos e preconceitos, em geral são produtos da cultura e travas para o entendimento. As escolas, no geral, por ensinarem apenas para o lado profissional, que é o que a sociedade quer dos seus cidadãos, são gaiolas onde a mente fica prisioneira. Devemos aprender a viver sempre no eterno presente porque a vida é um instante sempre eterno. Nossa mente deve se converter num instrumento flexível para o Íntimo. Nossa mente deve se tornar criança. E nosso coração deve se tornar adulto, chegar à maioridade.
O terceiro componente desta teia é o espírito. Dele podemos sempre esperar o melhor. Mas a ele nem sempre oferecemos o nosso melhor. Por que isso acontece? Por desconhecermos aquilo que o espírito espera de nós. E quando dizemos “nós”, estamos nos referindo à mente, àquela vontade sempre instintiva, ao instinto do ser mortal, desta parte corporal, que será consumida pela natureza de onde veio.
Para travar um diálogo com o espírito (que nos tem), existem dois caminhos: um deles é dormindo, com a mente terrena submersa da consciência que ela tem de si mesma e da consciência do corpo, que ela em parte comanda (como já vimos em postagens anteriores); o outro caminho é através de um longo treinamento, que é a meditação (também já enfocado). Este treinamento geralmente começa com a oração raciocinada (nossa conversa com o sagrado que respeitamos), se amplia pela contemplação (que venera o sagrado que está fora de nós) e irá aprofundar-se (quando conectamos o sagrado que está no nosso íntimo). Em geral, levamos anos treinando a mente para meditar, sossegando a mente para meditar. Ela, a mente, comporta-se como um macaquinho indócil dificilmente fazendo uma parada serena, focada. E o meditador precisa apagar o passado (lembranças) e inimiginar o futuro (projeções ou preocupações). Neste hiato de imobilidade a mente consegue atravessar o limite puramente material e descortinar o “espaço” consciencial, entendido este como a mente do espírito. Veja, já estamos no segundo andar do processo meditativo abordado em postagens anteriores.
Durante as práticas de meditação interna, devemos estar no mais completo repouso interior porque as agitações mentais, qualquer atitude de impaciência, turvam a mente, desviam as percepções e impedem a percepção das imagens do interior.
No mundo físico, qualquer atividade é acompanhada do movimento de nossas mãos, pernas etc., mas, nos mundos internos, precisamos do mais profundo repouso, da calma mais absoluta, para receber as imagens internas que vêm à mente como uma graça... Como uma bênção. Quando sonhamos dormindo, é isso que acontece. Meditar é sonhar acordado.
É indispensável que nossos leitores cultivem a bela qualidade da veneração como iniciação do processo. Devemos venerar profundamente todas as coisas sagradas e divinas, mesmo em se tratando de nosso próprio corpo. Devemos venerar profundamente as obras de Deus. Devemos venerar profundamente aos Mestres e Mentores da Espiritualidade. O respeito e a veneração abrem para nós as portas dos mundos superiores.
Nunca devemos supor que os mundos superiores descem aonde estamos. É a nossa consciência imaginativa que sobe até eles.
Não devemos ter preferências preconcebidas por nada e ninguém. Não devemos ficar preferindo conexões com este ou aquele guia, anjo ou santo. Aquelas imagens ou símbolos que nos sejam recomendados aparecerão espontaneamente, segundo nossa capacidade de “entender o que se passa” e também segundo o nosso mérito.
Devemos cultivar a cortesia e atender igualmente tanto ao rico como ao pobre, ao aristocrata como ao rústico; sem preferências para ninguém. Isso vale cá na terra e lá nos céus.
Devemos cultivar a paciência e a previsão. As formigas e as abelhas são pacientes e previdentes. Devemos aprender a ser indiferentes diante do ouro e das riquezas. Devemos aprender a apreciar mais a doutrina do coração. Aquele que despreza a doutrina do coração para seguir a doutrina do olho (teorias, escolas, cultura livresca etc.) não chegará jamais às grandes realizações espirituais.
Temos de aprender a conhecer o bom do mau e o mau do bom. Em todo o bom há algo de mau; em todo mau há algo de bom. Nunca imagine que seu guia ou mentor seja “alguém” do nível hierárquico de Jesus. Seu guia ou mentor também pode errar, também pode decepcionar. Isso vale para as pessoas nas quais você deposita confiança e admira. Elas poderão cometer falhas. Entenda isso, faça disso um ato de grandeza, pois você já está à altura de ver estas coisas.
Os estados elevados de consciência passam pela iniciação. Nada acontece por acaso. Para chegar às conexões – sejam elas quais forem – cada um de nós precisa ser iniciado.
É o assunto do próximo capítulo.

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