sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

943-"O Destino Existe?"


Culpados ou inocentes?

Talvez a resposta mais coerente para a pergunta-título fosse: nem uma coisa nem outra, peregrinos. Por que peregrinos? Peregrino não é aquele que se desafia a ir de um ponto a outro por sua livre escolha, enfrentando as agruras da travessia e, tendo conseguido, não é aquele que exulta dignificado?
Os humanos descrevem duas trajetórias com claríssimo objetivo enquanto peregrinos da vida. Numa delas a biologia fala mais alto.  Nossos genes são transportados aos nossos filhos. Deixamos inúmeras heranças genéticas, ou memórias bio-energéticas que perpassem gerações, séculos, milênios a caminho de um melhoramento também genético e a serviço de uma proposta maior.
O ladrão que roubou e não pagou por isso em vida e morreu, deixou seus genes em seu filho, mas pela genética não fará dele um ladrão e nem caberá ao filho pagar pelo erro do pai. Na lei judaica, sim. Que pena, judeus. Vocês não têm o direito de jogar inocentes na fogueira.
Na outra trajetória, é a cultura que fala mais alto. Quiçá mesmo neste filho ou nas gerações futuras, aparentemente "sem culpa de nada" em relação ao comportamento do ancestral, possa haver qualquer coisa: um novo ladrão por força das práticas culturais daquela família; um grande magistrado a serviço da justiça; um mendigo obrigado a pedir as migalhas de porta em porta.
O que se vê é que o processo biológico pode ser quebrado pela incompetência de transmissão dos genes; o processo cultural pode ser quebrado pela emergência de fatos extraordinários; os dois dão causa ao processo espiritual, que também pode ser quebrado por interferência cultural ou biológica.
Cabe comentar, os humanos atuais descendem de estirpes que puderam transmitir seus genes aos filhos e souberam sobreviver às exigências da vida. A isto se chama poder e saber biológico. O nascimento de um magistrado na descendência de pai ladrão pode encontrar explicações na biologia ou na cultura, mas é muito mais provável que seja explicado devidamente pelo processo espiritual.
Somos uma cultura de culpados. Ensinam-nos a culpa pela entrega de Jesus à crucificação; ensinam-nos a culpa pelo gesto de Eva no paraíso; certamente nos imputarão culpa pelos atos desregrados da família imperial.
Mas, no fundo, nascemos pautados para ir buscar a dignidade que nos falte em qualquer ato atual ou de encarnações anteriores.
Assim se faz o peregrino. Nem sempre completamos, exultantes, a travessia. Muitas vezes fracassamos e temos de ser carregados. Mas, a meta é atravessar, ainda que por repetidas tentativas.
Uma outra forma de ver a vida nestas questões de culpa ou inocência, é não só ver o direito usurpado; não só jogar a culpa no agressor. Nós somos nossos próprios verdugos. A fruta não cai longe do pé. Logo, tudo o que nos acontece é porque merecemos. Podemos mudar a situação? Sim. Por que não mudamos? É porque é mais fácil acusar o próximo como agressor.
É assim que vejo a crise do Oriente Médio. Todos têm culpa e todos são vítimas.
É preciso gostar muito de matar e morrer, fugir a atacar, viver em constante estado de alarme. Só assim consigo entender aquela gente que vive nas zonas de conflito entre árabes e judeus.
Qualquer um pode optar por ficar lá ou escolher qualquer outro país para viver. Nem mesmo as sabe o que os alimenta pois a terra é pobre, não tem água e o seu povo parece não fazer outra coisa que atacar e defender-se.
Juro que não ficaria lá por nada deste mundo sentindo-me culpado ou inocente, tanto faz.

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