quinta-feira, 1 de março de 2012

Agora já dá para ver


28. O Imperador Neoliberal Está Nu

Enquanto os anos de 2001 e 2008 marcaram, respectivamente, as mortes política e econômica do neoliberalismo, o 2011 marca o Fim do Fim da História. Porque só agora está ficando claro para as pessoas do mundo que, pelos últimos vinte anos, nós estivemos vivendo simplesmente uma mentira. De fato, o implícito consenso popular que no passado legitimou o capitalismo democrático agora parece estar se desfazendo de maneira mais rápida do que o esquema Ponzi, que sustentou a ilusão de sua superioridade moral.
Depois de vinte anos de estagnação dos salários, acelerado crescimento das desigualdades, desemprego juvenil excessivo e difundida alienação social, o estouro da bolha de crédito global finalmente desvelou a nua essência do sistema.
O capitalismo de mercado, livre e democrático, não é o que nos foi dito que era: como os anos recentes amplamente demonstraram, ele não é nem livre nem democrático e muito menos justo. Os aplicadores ressarcidos em muitas vezes o que aplicaram, quando há uma crise não assumem o prejuízo, despejam o ônus sobre a sociedade. Guerras foram travadas em nome do interesse das grandes empresas petrolíferas, apesar da gritante oposição popular. Cortes de impostos foram feitos em favor do Grande Capital apesar do gritante déficit de orçamento. E agora, bancos em falência estão sendo resgatados com dinheiro público. Cortes draconianos no orçamento em nome do Grande Capital Financeiro, apesar da gritante oposição popular quanto da evidência incontestável que isso só faz piorar o déficit. O sistema deixou de fazer sentido. Suas contradições internas o estão corroendo por dentro.
O liberalismo sempre criticou o governo e sempre reivindicou um Estado Mínimo, mas é o Estado que socorre suas crises. O Estado tem de ser mínimo apenas naquilo em que o capital privado pode lucrar.
Portanto, hoje, toda uma geração de pessoas jovens, desprovidas de esperança e oportunidade, está se levantando para contestar a noção absurda que esse estado de coisas desastroso constitui. E isso no momento em que se diz ser o ápice da “evolução ideológica da raça humana”.
É isto realmente o melhor que podemos fazer?
É essa a ordem mundial utópica que Fukuyama previu quando anunciou a vitória eterna da democracia liberal e do capitalismo global sobre seus inimigos invisíveis?
Com bancos falindo, países quebrando e dívidas privadas galopantes, o mundo ideal de Fukuyama certamente começou a parecer muito mais fraco agora que a farra de gastos abastecida por crédito que o sustentava caiu de cabeça em direção ao seu fim inevitável.
A magia acabou. O feitiço foi quebrado. E o que as pessoas do mundo estão tentando deixar claro para aqueles no poder é que nós sabemos. Não dá mais para encobrir. A mentira veio a tona. Nós sabemos que o sistema está podre por dentro. Nós sabemos que o seu suposto sucesso não consegue passar por escrutínio. Nós sabemos que as suas grandes conquistas – do mercado global de capitais à moeda única européia – foram construídas em areia movediça financeira e institucional.  E nós sabemos que a coisa toda está para desabar como um castelo de cartas. Desde a Praça Tahrir a Times Square, de Madrid a Madison, de Santiago a Syntagma, nós sabemos que o imperador neoliberal está nu.

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