terça-feira, 6 de março de 2012

Enfim, a liberdade?

33. Não, ainda não é liberdade!

Mas estamos a caminho.
É interessante frisar que o discurso liberal e neo-liberal, todo ele, está centrado na liberdade. Liberdade de pensamento e expressão, de ir e vir, de escolhas quanto à religião, partido, endereço, trabalho, enfim todas as liberdades fundamentais, algumas das quais muitos dos regimes que conhecemos não praticam e não autorizam.
Os governos centrais, autoritários, de direita ou de esquerda suprimem muitas dessas liberdades e se defendem com o argumento de que as oposições atrapalham o bom andamento dos programas governamentais. Uma das primeiras liberdades castradas é a de expressão. A imprensa – principalmente crítica – é silenciada ou amordaçada. Em muitos países europeus, sul-americanos e árabes isso ficou visível, ainda é.
Liberdade não foi outra coisa pregada por Jesus. E quantos governos que se dizem cristãos e suprimem as liberdades?
Quando Gorbachev, o simpático governante russo chamou para si o comando da caminhada da União Soviética para a democracia – mais de 20 países sob um mesmo governo central e ditatorial – tinha-se a impressão de que a experiência de governo comunista estaria por acabar e que, enfim, o mundo estaria livre do perigo vermelho via perestroika - reestruturação. Não foi bem assim. Ainda estavam no páreo a China, as Coréias e Cuba, além dos arroubos de Chávez na Venezuela. O planeta não tem um único regime econômico-político. E os regimes conhecidos estão falidos.
Ainda demorará a definição de qual modelo é o ideal para a humanidade.
É bem verdade que o chamado “mundo livre” tinha uma receita final para a vitória do capitalismo imperialista sobre os demais modelos: uma "nova ordem mundial" inteiramente controlada por entidades como a OTAN, ONU, organizações nascidas do agressivo pacto militar firmado pelos países capitalistas vitoriosos da 2a Guerra Mundial e destinadas a conter o avanço do socialismo que, à época estava em curso na URSS desde 1917. Mas, a discussão capital versus trabalho ainda não terminou porque o capital continua a explorar o trabalho e o meio-ambiente, dando espaços para uma nova corrente científica e ideológica: o Socialismo Científico, cuja proposta, sem ser comunista, tenta amenizar os estragos causados pelo capitalismo.
Os países que representam e encarnam o "fim da história" (já enfocado aqui), chamados "países democráticos" da "pós-história" - na verdade, as atuais potências imperialistas, com os Estados Unidos à frente – se julgaram de mãos livres para agir em defesa de seus interesses, intervir e perpetrar barbaridades, tudo em nome do "bem da humanidade", da "civilização" e da “democracia”. Mas, uma coisa é política. Outra coisa é economia. E a “democracia capitalista” viaja nas costas dos interesses monetários, com os bancos à frente e as indústrias atrás. Vimos muita coisa avançando e recuando, como foi o caso do Iraque. Motivo: a opinião pública do mundo está contra ocupação, guerra, ditadura seja sob qual argumento for...
Quando os “líderes democráticos“ se manifestam como têm se manifestado em relação ao Irã e à Coréia do Norte, entre outros, por exemplo, seu discurso em nada difere do fascismo. É um discurso antidemocrático, anti-socialista e agressivo que, às vezes, usando uma linguagem rebuscada, reflete um triunfalismo (que não é e não tem como ser verdadeiro). A queda do Muro de Berlim não foi o fim dos regimes opostos ao capitalismo neo-liberal.
Um dos arautos desse triunfalismo (Fukuyama – já mencionado aqui), não analisa e não derruba nenhum ponto essencial do pensamento socialista a respeito do capitalismo e da evolução histórica da humanidade. Esse japonês nascido nos EUA é mais um cabeça dura que só vê o que interessa e só fala no que dá lucro. Enquanto isso, o ponto de partida do socialismo científico sobre o capitalismo é o de que este último é um regime fundado na exploração do homem pelo homem, da burguesia sobre o proletariado, sob a forma da apropriação da mais-valia, a forma especificamente burguesa de apropriação do trabalho sub-pago. A escravidão chula foi embora com a abertura das portas das prisões chamadas de senzalas, mas a escravidão clássica sob o enfoque do contrato de trabalho, permanece. Enquanto persistir essa relação de dominação não se pode falar em libertação do homem. Como disse Marx (de certa forma repetindo Jesus), a produção capitalista significa a dominação do capitalista sobre o operário, a dominação da coisa sobre o homem, do trabalho morto sobre o trabalho vivo, do produto sobre o produtor. "Na produção material, no verdadeiro processo da vida social - pois o processo de produção é isso - dá-se exatamente a mesma relação que, no terreno ideológico, se apresenta na religião: a conversão do sujeito em objeto e vice-versa".
Esse modo de produção, que está condenado a produzir e reproduzir permanentemente tal relação social, não conduz nunca à liberdade, mas à opressão e à alienação, quando não descamba para o confronto, a greve, a putrefação das relações das partes que nunca foram oponentes porque são complementares.
Essa cadeia precisa ser rompida, ou seja, os trabalhadores têm de rompê-la nem tanto para ganharem mais, mas para adquirirem dignidade e se libertarem e os empregadores têm de aceitá-la em benefício do equilíbrio e da harmonia na economia.
Alguns pensadores advogam que sem destruição do capitalismo não existe o reino da liberdade. Que não será o "fim da história", mas o início de uma nova era na história da humanidade. Mas, o capitalismo para sobreviver tem de tornar capitalistas todos os envolvidos no processo de produção, isto é, trabalho, meio ambiente, conhecimento precisam tanto quanto o capital, serem remunerados em proporções equivalentes à sua participação no processo.
O socialismo significa um primeiro passo na superação desta fase selvagem do capitalismo e um avanço em direção ao comunismo, a uma sociedade com classes harmonizadas (não uniformizadas), uma sociedade altamente desenvolvida e igualitária - não porque os homens devem ser formalmente iguais em desejos e respostas, mas iguais direitos e deveres. Isso nunca aconteceria numa sociedade burguesa, persistindo entre eles a desigualdade econômica básica, fruto da exploração de uma classe por outra. A persistirem as classes, que elas sejam comprometidas umas com as outras na busca da harmonia, do equilíbrio.
Nas palavras de Engels, o homem, ao tornar-se dono e senhor das suas próprias relações sociais, converte-se, pela primeira vez, em senhor consciente e efetivo da natureza. "Os poderes objetivos e estranhos que até aqui vinham imperando na história colocam-se sob o controle do próprio homem. Só a partir de então ele começa a traçar sua história com plena consciência do que faz. E só daí em diante as causas sociais postas em ação por ele começam a produzir, predominantemente, e cada vez em maior medida, os efeitos desejados. É o salto da humanidade do reino da necessidade para o reino da liberdade". A partir daí, pode-se falar não no "fim da história", mas num verdadeiro "começo da história" para a sociedade humana.
A evolução da humanidade em direção ao reino da liberdade não se interrompeu no final de século XX, marcado por tantos acontecimentos trágicos e por um aparente triunfo final do capitalismo. O historiador E. H. Carr faz uma reflexão no sentido de que a história vem sempre avançando, mas óh! Prova que ninguém jamais acreditou num tipo de progresso que avançasse numa linha reta contínua, sem reveses ou desvios. Ele diz: "Há, nitidamente, períodos de regressão e períodos de progresso". Assim, este final de século poderia ser descrito como um período de regressão, de desvio, que não deve nos levar a perder o rumo do horizonte histórico da humanidade.

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